quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Sofrimento e consciência de si em Kierkegaard

A propósito de sofrimento...



Para Kierkegaard o sofrimento é próprio da consciência de si. O sofrimento não é próprio da autenticidade como qualquer coisa que deve ser vencida e superada - mas pela sua continuidade perpétua. A autenticidade é sofrimento contínuo e que tem, para ser realmente autenticidade, de ser escolhido. Aquilo que é considerado o mais natural, o mais simples e, por isso, uma perda de tempo, é justamente o mais difícil, aquilo acerca do qual cada um mais se engana a si mesmo: a saber, o ser autenticamente um humano. Para se ter a ideia do que isto significa tem que se colocar uma mão sobre uma placa ardente, sentir a dor e, depois, não tirar a mão - não pensar noutra coisa, não recorrer aos treinos psicológicos que permitem que certos tropas especiais suportem as dores, não. O sofrimento deve aqui ser entendido como aquilo que o sujeito deve querer manter, não porque ele se tenha tornado qualquer coisa agradável, não porque se tem um gosto por sofrer - o que ainda é um engano, uma ilusão, um ainda não ter percebido o que é o sofrimento. E depois é preciso ainda perceber que não se está, de facto, a falar de sofrimento físico, mas do sofrimento da interioridade. Então temos aí uma pequena ideia de que, de facto, não é fácil ser-se um humano na plena consciência de si como sujeito individual existente.
(Cf. Johannes Climacus, Anti-Climacus e discursos edificantes)

Dizia Johannes Climacus no Postscriptum que, se devesse ficar famoso por alguma coisa, que o ficasse por não compreender as exigências do seu tempo. No seu tempo as pessoas queriam tornar tudo mais fácil e cómodo, ou ter tudo comodamente facilitado. No seu tempo era assim.

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