Já é uma completa falta de respeito para com Mandela que os nossos governantes se pronunciem sobre ele e sobre a sua actuação ao longo da vida. E é uma falta de respeito porque os nossos governantes representam o oposto de Mandela, isto é, representam não a ditadura de direito e de facto, mas sim representam aquela postura muito mais ignominiosa de quem sempre está do lado dos interesses do momento e que, portanto, tanto é indiferente à dignidade humana como colabora com as piores atrocidades: são assim os nossos governantes.
Mas pior é Cavaco Silva. Este senhor que hoje, para prova de que a factualidade histórica dá visibilidade e sucesso segundo o acaso de forma absolutamente indiferente, este senhor que hoje é o Presidente de Portugal para prova de que os portugueses sabem esquecer mesmo as coisas que são mais importantes, este senhor que hoje envia mensagem de condolências pela morte de Mandela, para prova de que não tem esqueleto moral, foi justamente aquele que, no momento em que a maioria da diplomacia mundial se alinhava do lado de Mandela quando ele precisava e era altura de lhe dar apoio, esteve do outro lado, do lado dos fracos, sem coragem, sempre com um olho nos interesses do momento e nos interesses de amanhã, e que não têm escrúpulos em mostrar com as suas acções que não têm uma consciência, ou que, se a têm, a mantêm domada. Este senhor, Cavaco Silva, que por um acaso obtuso ocupa a presidência, este senhor é muito pior e da sua boca sair um murmúrio bajulador da memória de Mandela é um muito maior insulto àquilo que Mandela representa. Porque quando Cavaco permaneceu do outro lado quando Mandela mais precisava, já o mundo estava a perceber que Mandela representava o lado de onde mandava a consciência que se estivesse - e ainda assim Cavaco foi casmurro, apegado aos interesses, os seus ou os de Portugal, os desse momento, ou os do futuro desse momento - não interessa: em nome de interesses, Cavaco preferiu estar do outro lado, objectivamente contra Mandela e contra as crianças vítimas daquele regime indigno do apartheid. Resistiu na sua persistente teimosia a favor dos interesses, dos benefícios, das vantagens - tal como hoje continua desse lado, e esse lado é decididamente o outro lado, o lado que ao longo da História sempre esteve presente para esmagar, aprisionar, torturar e matar homens como Mandela...
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