domingo, 31 de julho de 2016

O Nazismo é a Verdade do Ocidente

A propósito da "virtude" da banalidade...

Na antiguidade, "trabalho" era ou escravidão ou tortura. O trabalhador era o escravo, o servo. O escravo trabalhava ou era castigado - e o trabalho era a tortura, ou a tortura de ser escravo, ou a tortura que castigava o escravo.

Uma mentalidade diferente se começou a formar na Europa há séculos. Muito lentamente a mentalidade inverteu-se. Com a revolução industrial essa inversão estabeleceu-se. Foi naturalmente que a Europa chegou à conclusão de que o trabalho salva.
 
Quando o homem começou a viver para trabalhar, quando o trabalho se tornou a medida do homem, quando a dignidade humana foi reduzida ao seu trabalho o homem perdeu a sua humanidade. Só por força de ilusões de óptica tudo pode parecer diferente e os homens ainda se convencerem de que são humanos: quando o trabalho é a vida do homem este tornou-se essencialmente dispensável.
 
O Nazismo não foi uma aberração da racionalidade: o Nazismo é a verdade da mentalidade ocidental. Sacrificar os homens está-lhe no sangue - e o que tem preservado o Ocidente de continuamente recair no Nazismo é que o Ocidente não sabe bem "a quê" sacrificar os homens... 

Paradoxalmente, tem sido a perda de ideais, a perda de força vital, a perda de paixão no Ocidente que tem preservado o Ocidente: dêem-lhe um ideal, "algo pelo qual se deva trabalhar", e teremos a mentalidade perfeita para as trevas!

sábado, 9 de julho de 2016

Relativismo cultural versus Relativismo moral

A propósito do relativismo cultural...

O Relativismo Cultural não implica Relativismo Moral


Turiel e Richard Schweder, cientistas das áreas da antropologia e da psicologia cultural, realizaram estudos para avaliar se havia algum fundo comum a todas as morais dos vários povos... Encontraram povos com normas sociais muito estranhas.
Em alguns povos, a mulher é partilhada sexualmente por todos, noutros comem-se os próprios filhos... Encontraram um povo, os Iks, que considerava o egoísmo uma virtude, recusava a noção de partilha, os pais deixavam morrer os filhos à fome sem qualquer recriminação social, os filhos nunca cuidavam dos pais quando estes precisavam ou envelheciam, etc. Contra todas as expectativas, este povo não se extinguiu, apesar de deixar morrer os filhos à fome parecer ser uma boa forma de uma sociedade se extinguir...
Mas, analisando os dados, chegaram à conclusão (provisória, claro) de que, por mais diferentes que sejam as normas de conduta entre povos, e mesmo nos casos mais extremos, parece haver um reduto moral comum, independentemente da variação da norma de conduta... Mesmo nos Iks.
Por exemplo, um canibal admite que comer outros homens é errado. Contudo, uma cultura canibal tem uma explicação para o acto de comer o outro, por exemplo, possuir o espírito do inimigo derrotado na batalha. Os Iks motivos para deixarem morrer os filhos à fome, pois é-lhes muito difícil adquirir comida e a densidade populacional tem de ser mantida em níveis muito baixos... Aparentemente, até mesmo o líder do Estado Islâmico admite que matar humanos é errado, mas tem uma explicação para matar infiéis... Ou seja: parece, de facto, que toda a gente sabe o que é o Bem, e que este Bem é igual para todos os homens - mas alguns arranjam desculpas, ou têm crenças que justificam comportamentos imorais... A razão, ao contrário do que Kant supunha, não parece ser um meio seguro de determinar o Bem - pelo contrário, parece ser o meio mais comum de o corromper...

terça-feira, 5 de julho de 2016

São Lourenço e o fenómeno da resistência

A propósito do fenómeno da resistência





O problema filosófico da resistência ao mal é complexo... desde logo porque não é evidente o que é o "mal". Como não é evidente como é que nós discriminamos o bem do mal. Mas depois há o problema da resistência. A resistência é um problema específico: como é que há homens que, mesmo quando todas as circunstâncias os condicionam para o mal, ainda assim lhe resistem?

Este é um problema eminentemente filosófico. Do ponto de vista científico, o fenómeno da resistência configura uma excepção, uma anomalia: quando todas as supostas "leis" psicológicas, quando todas as determinações nos levariam a prever um certo comportamento o sujeito comporta-se de uma forma contrária. Para a ciência, o fenómeno da resistência não é, de facto, um fenómeno científico, pois, por definição, não pode ser reproduzido: a reprodução das circunstâncias tende a reproduzir o comportamento padrão, previsível, de modo que não é possível estudar cientificamente o fenómeno da resistência: não apresenta um padrão empírico verificável e reproduzível. Portanto, em princípio, o fenómeno da resistência não existe cientificamente. E, no entanto, ele existe porque ocorre de facto: no condicionamento mais extremo há homens que resistem a comportar-se conforme esperado. Como estas ocorrências - estes homens - são extremamente raras, são simplesmente anomalias, conjuntos estatisticamente irrelevantes, percentagens residuais da população.


São Lourenço, responsável pela guarda dos bens materiais da Igreja e respectiva distribuição pelos pobres foi chamado perante o imperador. Este exigiu-lhe que entregasse todo o tesouro da Igreja. São Lourenço reuniu os mais pobres de entre os pobres, os doentes mais enfermos e levou-os à presença do imperador, dizendo: "Aqui está o tesouro da Igreja". Naturalmente, o imperador não ficou contente com aquela falta de respeito e sentenciou-o à morte pelo fogo. Reza a lenda que, enquanto era queimado em lume brando, sobre as brasas, São Lourenço disse: "Este lado já está bem passado, podem virar-me". Parece que a Igreja Católica achou tanta piada ao caso que o fez padroeiro dos cozinheiros!
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