Catecismo da Igreja Católica: http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html
Ver a partir do
ponto 781 até ao 810. Apenas se salva quem pertence à Igreja, e a Igreja é o
corpo de Cristo. Apenas com Cristo as portas do Reino dos céus se abriram e a
chave foi confiada a Pedro, aos seus sucessores. Aliás, só pela fé e pelo
Baptismo se entra no Povo de Deus (ver, por exemplo, ponto 804).
O ponto 1281
parece contradizer o indício anterior: “1281. Os que sofrem a morte
por causa da fé, os catecúmenos e todos
aqueles que, sob o impulso da graça, sem conhecerem a Igreja, procuram sinceramente
a Deus e se esforçam por cumprir a sua vontade, podem salvar-se, mesmo sem
terem recebido o Baptismo (89).” Este ponto parece contradizer
todos os outros em que se diz claramente que a Igreja é necessária à salvação.
Sobretudo parece esquecer que a vontade de Deus, tal como a concebe a cultura
judaico-cristã de matriz greco-latina, não está presente noutras culturas. Os
habitantes de Esparta e os Dobu, na Nova Guiné, acreditavam que roubar era
moralmente correcto. O povo a que se chama esquimó (o Inuit) deixava os idosos
morrer de fome. Na África Oriental os bebés deficientes eram atirados aos
hipopótamos. Sempre que morria um membro da tribo Kwakiutl, os familiares do
falecido julgavam ser seu dever sair em busca de membros de outras tribos para
os matar: não por serem responsáveis, simplesmente acreditavam que se lhes
morria alguém na família, tinham o dever de matar outras pessoas de outras
tribos. Na Índia, sempre que morria alguém casado, as suas mulheres eram queimadas.
Nas ilhas Fidji era dever moral dos filhos matar os pais quando estes
envelheciam e ficavam dementes ou incapacitados fisicamente, porque acreditavam
que quem morria ficava para toda a eternidade como estivesse no momento da
morte: se morresse demente ficaria demente para sempre. Os povos mesoamericanos
acreditavam que, para honrar os deuses, deveriam sacrificar humanos. Na Gronelândia,
quando o pai adoecia enterravam-se os filhos vivos. As práticas relativas ao
sacrifício de humanos eram comuns na pré-história, e mesmo na Hélade há
vestígios da sua ocorrência (ver Tratado
da História das Religiões, Mircea Eliade, ed. Asa, 5ª ed., pág.s 426 e
449-450).
Também em Rom 2:14-15 se fala daqueles que não são
Judeus mas que fazem o que a Lei manda segundo a natureza (φύσει). Mas como se sabe, para o crente a lei
não basta. Aliás, os cristãos já não estão sujeitos à lei (Rom 3:19-21). Ver também Rom
2:12: ὅσοι γὰρ ἀνόμως ἥμαρτον, ἀνόμως καὶ ἀπολοῦνται, καὶ ὅσοι ἐν νόμῳ ἥμαρτον, διὰ νόμου κριθήσονται· (“Certamente quantos sem lei falharam,
sem lei também serão mortos, e quantos na lei falharam, através da lei serão
julgados.”). A tradução oficial deste passo diz: quicumque enim sine lege
peccaverunt sine lege et peribunt et quicumque in lege peccaverunt per legem
iudicabuntur (Pois todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão, e
quantos pecaram na lei serão julgados pela lei). As traduções modernas vertem
para: “Todos os que pecam sem conhecer a Lei de Moisés perdem-se sem serem
julgados por essa lei. Mas todos os que pecam, apesar de a conhecerem, serão
condenados pela mesma lei.” (trad. Capuchinos, ed. de 1993). Mas, quer o grego,
quer o latim, quer a tradução moderna não esclarece nada: o que significa ser
morto ou morrer sem lei? O que significa perder-se sem ser julgado?
Aliás, o que é
lei quando não há a Lei? Está na natureza do humano, nos seus corações. Mas a
Lei é a Lei de Moisés a qual apenas se consuma plenamente em Cristo (Rom 7).
Segundo a
Bíblia sem a Lei não há pecado. No capítulo 7 de Rom, verso 7 em diante, Paulo tem uma das passagens mais largamente
comentada em Filosofia. Aí Paulo concede que não haveria pecado sem lei,
reconhece que ao saber de uma proibição, essa mesma proibição espicaça o desejo
de a quebrar e sugere que a Lei cria no humano ocasião para pecar contra a
mesma Lei. É que saber da Lei redobra a força do pecado. Rom 7:8: χωρὶς γὰρ νόμου ἁμαρτία νεκρά. (“certamente separado da lei a falta
está morta”, isto é, sem lei não há
pecado). 7:7: Τί οὖν ἐροῦμεν; ὁ νόμος ἁμαρτία; μὴ γένοιτο· ἀλλὰ τὴν ἁμαρτίαν οὐκ ἔγνων εἰ μὴ διὰ νόμου τὴν τε γὰρ ἐπιθυμίαν οὐκ ᾔδειν εἰ μὴ ὁ νόμος ἔλεγεν οὐκ ἐπιθυμήσεις. (“Então que diremos? A lei é falta?
Não é o caso. Mas a falta eu não conheceria se não através da lei – e
certamente não teria conhecido o desejo se a lei não tivesse dito não desejarás.”)
Mas, afinal,
quem nasceu antes de Cristo pode ou não ser salvo? Esta discussão estava viva e
Paulo não poderia deixar de fora os Patriarcas da tradição. Ver Rom 4:1-12. É neste passo, que não
transcrevo por ser longo, que Paulo mais parece aceitar que os Patriarcas antes
de Jesus foram aceites por Deus. Mas não pelas obras que fizera (Rom 4: 2). Não são as obras de Abraão
que o salvam, pelo contrário, se fossem as suas obras a salvarem-no isso
poderia levá-lo ao pecado do orgulho, afastando-o de Deus. O que o salvou foi
ter acreditado em Deus (Rom 4:3).
Em Rom 5: 12-20 Paulo fala dos períodos da
humanidade: de Adão a Moisés, de Moisés a Jesus, depois de Jesus… Aí se diz
algo também muito complexo e aparentemente contraditório com outras passagens: ἄχρι γὰρ νόμου ἁμαρτία ἦν ἐν κόσμῳ, ἁμαρτία δὲ οὐκ ἐλλογεῖται μὴ ὄντος νόμου (“certamente, desde antes da lei a falha
era no mundo, mas a falha não era imputada não havendo lei”). E a morte reinou
de Adão a Moisés mesmo sobre aqueles que não pecaram como Adão (ἀλλ’ ἐβασίλευσεν ὁ θάνατος ἀπὸ Ἀδὰμ μέχρι Μωϋσέως καὶ ἐπὶ τοὺς μὴ ἁμαρτήσαντας ἐπὶ τῷ ὁμοιώματι τῆς παραβάσεως Ἀδάμ). Portanto, o pecado afinal existe sem
Lei, mas não é tido em consideração. Contudo, a morte dominou o humano após o
pecado de Adão. Por causa da falta de Adão todo o género humano foi condenado
(versos 17-18). Com a chegada da Lei o pecado ainda aumentou (verso 20). Mas
como Deus é bom, ofereceu Jesus Cristo por nós para nos conduzir à vida eterna
(verso 21). Ver Catecismo ponto 518:
“Toda a vida de Cristo é mistério de recapitulação. Tudo o que Jesus fez, disse
e sofreu tinha por fim restabelecer o homem decaído na sua vocação originária: «Quando
Ele encarnou e Se fez homem, recapitulou em Si a longa história dos homens e
proporcionou-nos, em síntese, a salvação, de tal forma que aquilo que havíamos perdido em Adão – isto é, sermos imagem e semelhança de Deus – o recuperássemos em Cristo
Jesus» (199). «Aliás, foi por isso que Cristo passou por todas as idades da
vida, restituindo assim a todos os homens a comunhão com Deus» (200).”
Note-se que
desde Adão os homens haviam perdido o serem imagem e semelhança de Deus.
Depois, no
capítulo 6, Paulo descreve como é a morte e a ressurreição de Cristo e o
nosso baptismo que nos salvam.
O ponto 1281
afirma que alguns homens se podem salvar sem Baptismo e sem “conhecerem a
Igreja”, mas isto é contradito imensas vezes. Ver, por exemplo, ponto 1992 e
seguintes: “A justificação é concedida pelo Baptismo, sacramento da fé.” A
justificação é a remissão dos pecados e a santificação do homem interior (ver
ponto 2019).
Continuando. Só
com Cristo se deu a reconciliação após o pecado original. A expiação ocorre com
a morte de Cristo, e é a sua ressurreição que possibilita a salvação. Ver
pontos 648-678. O acesso à salvação
não deriva da natureza humana, mas sim exclusivamente da graça divina
consumada na ressurreição.
Vejamos o ponto “654. Existe um duplo aspecto no mistério pascal: pela
sua morte, Cristo liberta-nos do pecado; pela sua ressurreição, abre-nos o
acesso a uma nova vida. Esta é, antes de mais, a justificação, que nos
repõe na graça de Deus (582), «para que, assim como Cristo ressuscitou dos
mortos [...], também nós vivamos uma vida nova» (Rm 6, 4). Esta consiste na
vitória sobre a morte do pecado e na nova participação na graça (583); realiza
a adopção filial, porque os homens tornam-se irmãos de Cristo, como o próprio
Jesus chama aos discípulos depois da ressurreição: «Ide anunciar aos meus
irmãos» (Mt 28, 10) (584). Irmãos, não por natureza, mas por dom da graça,
porque esta filiação adoptiva proporciona uma participação real na vida do
Filho, plenamente revelada na sua ressurreição.
655. Finalmente,
a ressurreição de Cristo – e o próprio Cristo Ressuscitado – é princípio e
fonte da nossa ressurreição futura: «Cristo ressuscitou dos
mortos como primícias dos que morreram [...]. Do mesmo modo que em Adão todos
morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida» (1
Cor 15, 20-22). Na expectativa de que isto se realize, Cristo
Ressuscitado vive no coração dos seus fiéis. […]”
Note-se que O
Cristo é o Verbo feito homem, mas Cristo e Verbo não são a mesma coisa. Ver,
por exemplo, pontos 990-1015. O Verbo fez-se carne (isto é, humano) para
redimir a carne. Faço aqui lembrar que a Ressurreição significa que será do
corpo e da alma. O humano que virá a ressuscitar será carne. Podemos ver isso
no ponto 990:
“990. A
palavra «carne» designa o homem na sua condição de fraqueza e mortalidade (560)
«Ressurreição da carne» significa que, depois
da morte, não haverá somente a vida da alma imortal, mas também os nossos
«corpos mortais» (Rm 8, 11) retomarão a vida.”
O ponto 990 é
confuso: a carne é mortal, mas depois da morte haverá carne, isto é, “corpos
mortais”. A Ressurreição é da carne.
“1015. «Caro salutis est
cardo – A carne é o fulcro da salvação» (601). Nós
cremos em Deus, que é o Criador da carne; cremos no Verbo que Se fez carne para
remir a carne; cremos na ressurreição da carne, acabamento da criação e da
redenção da carne.”
Ratzinger comenta estes aspectos em Jesus de Nazaré – Da Entrada em
Jerusalém até à Ressurreição: pág. 192, “a nossa moralidade pessoal não
basta para venerar de modo justo a Deus […]. Mas o Filho feito carne carrega em
Si todos nós e, assim, dá aquilo que nós, sozinhos, não podemos dar”; “a
ressurreição é o ponto decisivo. Que Jesus tenha existido só no passado ou,
pelo contrário, exista também no presente depende da ressurreição.” Ou seja,
Jesus não é o Verbo, mas sim o Verbo encarnado. Jesus morreu e ressuscitou,
subiu aos céus em corpo. E é este Cristo que é o princípio do Reino de Deus e
do Povo Cristão. Pág. 199: “Na ressurreição de Jesus, foi alcançada uma nova
possibilidade de ser homem, uma possibilidade que interessa a todos e abre um
futuro, um novo género de futuro para os homens.”
Jesus morreu pelos nossos pecados. Ver 1 Cor 15: 3: ὅτι Χριστὸς ἀπέθανεν ὑπὲρ τῶν ἁμαρτιῶν ἡμῶν κατὰ τὰς γραφάς (literalmente: “que Cristo morreu pelas falhas de
nós conforme os escritos” // mais literariamente: “que Cristo morreu pelas
nossas faltas conforme as escrituras). Isto é qualquer coisa que remonta aos
anos 30 e que depois viria a ser registado nos Evangelhos. Ver Jo 14:6: λέγει αὐτῷ [ὁ] Ἰησοῦς, ἐγώ εἰμι ἡ ὁδὸς καὶ ἡ ἀλήθεια καὶ ἡ ζωή· οὐδεὶς ἔρχεται πρὸς τὸν πατέρα εἰ μὴ δι' ἐμοῦ. (“disse-lhe Jesus: eu sou o caminho e a verdade e a vida. Ninguém irá
até [ἔρχεται πρός] ao pai se não
através de mim [δι' ἐμοῦ]”). Ver Catecismo,
ponto 1953: “A lei moral encontra em Cristo a sua plenitude e unidade. Jesus
Cristo é, em pessoa, o caminho da perfeição. Ele é o fim da lei, porque só Ele
ensina e confere a justiça de Deus: «O fim da Lei é Cristo, para a justificação
de todo o crente» (Rm 10, 4).”
Ver Act 4:12: καὶ οὐκ ἔστιν ἐν ἄλλῳ οὐδενὶ ἡ σωτηρία οὐδὲ γὰρ ὄνομά ἐστιν ἕτερον ὑπὸ τὸν οὐρανὸν τὸ δεδομένον ἐν ἀνθρώποις ἐν ᾧ δεῖ σωθῆναι ἡμᾶς. (“e não há
em nenhum outro a salvação, nem mesmo há outro nome sob o sol, que tenha sido
dado entre os humanos, no qual devamos ser salvos”).
Jesus não é um de entre outros caminhos válidos, ele é O único. Também
não acontece que esteja aí no mundo um caminho adequado ao humano, e Jesus seja
apenas um sinal, apenas um mapa. Não. Jesus É o caminho. Não há caminho sem
ele.
Mas não nego que existam textos dúbios. Ver Act 17:30: τοὺς μὲν οὖν χρόνους τῆς ἀγνοίας ὑπεριδὼν ὁ θεὸς, τὰ νῦν παραγγέλλει τοῖς ἀνθρώποις πάντας πανταχοῦ μετανοεῖν,[…]. (“então, Deus, olhando por cima dos tempos de
ignorância, agora manda que todos os humanos por todo o lado mudem” – este
verso é muito discutível porque não é claro o que se quer dizer por ὑπεριδών, do verbo εἶδον, olhar/ver,
e que à letra é olhar por cima, isto é, como no inglês, overlook
– ora, isto tanto pode ser indicativo de que Deus não deu importância aos
tempos de ignorância, permitindo que todos se salvassem, como pode significar
precisamente o contrário, que antes não foi dada possibilidade de salvação;
note-se que μετανοεῖν é mudar de pensamento, alterar a forma de
compreensão, sendo que o substantivo correspondente, μετάνοια, foi
tradicionalmente traduzido por paenitentia, isto é, penitência.
As bíblias modernas acham por bem traduzir por arrependimento, o
que é, obviamente, estupidez; devo dizer ainda que o termo que traduzo por ignorância,
ἄγνοια, quer dizer à letra sem compreensão; assim, o que o grego está
literalmente a dizer é: o deus supervisionando os tempos de falta de
compreensão, agora manda a todos os humanos por todo o lado que alterem o seu
modo de compreender). Não é, no entanto, claro que com isto se esteja a
dizer que todos os que viveram antes de Jesus, em tempos de ignorância,
estão salvos automaticamente. Aliás, não é claro de todo o que significa este
verso, a não ser que houve um tempo sem compreensão adequada das coisas, e que
agora é tempo de adquirir uma compreensão (adequada).
Esta discussão, e também o facto de que ela se verificou desde os
primeiros tempos do cristianismo, encontra-se bem representada em Rom 3.
Todo este capítulo é fantástico e recomendo a sua leitura. Sobretudo os
versículos 23-26. Sobre isto e sobre o facto de haver discussão entre os primeiros
cristãos sobre a possibilidade de salvação dos seus entes queridos que morreram
antes de Jesus ver A Evolução de Deus, de Robert Wright, pag. 357 em
diante.
Claro que há passagens em que Cristo aparece antes de Cristo. Cristo,
não o Verbo! Ver 1 Cor 10: 4: καὶ πάντες τὸ αὐτὸ πνευματικὸν ἔπιον πόμα· ἔπινον γὰρ ἐκ πνευματικῆς ἀκολουθούσης πέτρας, ἡ πέτρα δὲ ἦν ὁ Χριστός. (“e todos
tomaram da mesma bebida espiritual: beberam de facto da pedra espiritual que os
seguia, mas a pedra era o Cristo”). Paulo está aqui a falar dos antepassados
dos judeus e da passagem do Mar Vermelho, ou seja, acontecimentos muitos
séculos anteriores a Jesus.
Portanto, as escrituras parecem convergir, salvo raríssimas excepções
duvidosas, neste ponto: apenas Cristo salva.
E nem sempre se sabe muito bem como procede nesse salvamento. Ver Rom
9:15-16: τῷ Μωϋσεῖ γὰρ λέγει· ἐλεήσω ὃν ἂν ἐλεῶ καὶ οἰκτιρήσω ὃν ἂν οἰκτίρω. ἄρα οὖν οὐ τοῦ θέλοντος οὐδὲ τοῦ τρέχοντος ἀλλὰ τοῦ ἐλεῶντος θεοῦ. (“Portanto,
[Deus] disse a Moisés: serei misericordioso com quem eu for misericordioso e
serei compassivo com quem eu for compassivo. Logo, não [depende] daquele que
quer nem daquele que corre, mas de deus que é compassivo”, ou seja, Deus será
misericordioso e compassivo com quem bem entender, logo, não depende do que se
queira nem do que se faça, mas de Deus).
Aos cristãos do início da era cristã interessava saber se os seus entes
já mortos ainda se poderiam salvar. E é isso que é discutido nos textos. Por
outro lado, o que perguntamos é se, para a Religião Católica, esse salvamento é
possível. Não perguntamos segundo as escrituras, o que implicaria a nossa
interpretação pessoal desses escritos, mas sim segundo a Religião Católica.
A ideia perpassa toda a história da Igreja: apesar de o humano ter sido
criado para a imortalidade, apenas a morte e ressurreição de Jesus cria a
possibilidade autêntica do ser homem permitindo-lhe encontrar o seu lugar
próprio e imortalidade em comunhão com Deus. Ver, por exemplo, Tertuliano, De
resurrectione mortuorum, 51, 3: “confiai, carne e sangue! Graças a Cristo
adquiristes um lugar no Céu e no Reino de Deus”.
Então, segundo o catolicismo os homens que viveram antes de Cristo
podem salvar-se? Se sim, isso aconteceu apenas aos Patriarcas da tradição
judaica, ou também outros homens se puderam salvar? E podem salvar-se os homens
que viveram sem ouvirem falar de Cristo, nem da Lei de Moisés, nem da tradição
de Abraão?
Segundo o Catolicismo (ver as citações do Catecismo que fiz), só
através de Cristo há salvação. Não enquanto Verbo, mas enquanto Jesus. Ver Cidade
de Deus, de Santo Agostinho, vol. II, livro IX, cap. XV: “o acesso ao bem
único” só é possível mediante “o Verbo incriado”, no entanto, “não é enquanto
Verbo que ele é mediador, […]. Ele é mediador enquanto homem.”
Ver Catecismo, ponto 1258: “A Igreja não conhece outro meio
senão o Baptismo para garantir a entrada na bem-aventurança eterna.”
Mas há algumas excepções feitas ao ponto.
A excepção de quem morre pela fé. Ponto 1258: “Desde sempre, a Igreja
tem a firme convicção de que aqueles que sofrem a morte por causa da fé, sem
terem recebido o Baptismo, são baptizados pela sua morte por Cristo e com
Cristo. Este Baptismo de sangue, tal como o desejo do Baptismo
ou Baptismo de desejo, produz os frutos do Baptismo, apesar de
não ser sacramento.” Ver Cidade de
Deus, Vol. I, livro XIII, cap. VII.
A excepção de quem anda a fazer a via do baptismo mas morre antes de o
consumar. Ponto 1259: “Para os catecúmenos que morrem antes do
Baptismo, o seu desejo explícito de o receber, unido ao arrependimento dos seus
pecados e à caridade, garante-lhes a salvação, que não puderam receber pelo
sacramento.”
A excepção de quem vive como supõe ser a vontade de Deus. 1260: “Todo o
homem que, na ignorância do Evangelho de Cristo e da sua Igreja, procura a
verdade e faz a vontade de Deus conforme o conhecimento que dela tem, pode
salvar-se. Podemos supor que tais pessoas teriam desejado
explicitamente o Baptismo se dele tivessem conhecido a necessidade.”
Ver Cidade de Deus, Vol. I, livro X, cap. XXV. Os Profetas que, no tempo
da Lei ou mesmo antes da Lei (de Moisés), antes de verem a Cristo esperavam
Cristo, salvaram-se no ministério (sacramentum) de Cristo e na fé. Claro
que, como já referido, não é claro que em todos os povos exista um entendimento
semelhante ao cristão sobre o que seja vontade de Deus.
A excepção dos recém-nascidos. 1261: “Quanto às crianças que
morrem sem Baptismo, a Igreja não pode senão confiá-las à misericórdia
de Deus.” Este ponto deriva dos esforços de João Paulo II para “reabilitar” a
salvação das almas dos recém-nascidos. Na Internet há imensa bibliografia sobre
o assunto (limbus puerorum). A tradição tendeu a supor que as crianças não
baptizadas iriam para o limbo. A discussão teológica está em saber se o pecado
original condena o nado-morto ou não. Ver, por
exemplo, http://www.catholicculture.org/culture/library/view.cfm?id=7529&CFID=6920012&CFTOKEN=53774096 e Essays in Apologetics, Volume II:
Arguments Directed to Non-Catholics (eBook): “Description: In October of 2004, Pope John Paul II assigned
to the International Theological Commission the task of studying the question
of the possibility for salvation of unbaptized infants, including the
commonly-held theological concept of Limbo, and previous teachings of the
Church on this subject.”
Segundo a tradição popular os nados-mortos transformar-se-iam em anjos.
Obviamente, nada de oficial existe neste sentido.
Ora, nos primeiros anos da cristandade era difícil aceitar que os
homens que eram o símbolo da religião judaica não fossem salvos, quando foram
eles os fundadores daquilo que os primeiros cristãos ainda assumiam como sendo
a sua própria religião. Como poderiam Abraão, Noé e Moisés ter-se perdido se
foram eles os chamados por Deus para propagar a Sua vontade?
A juntar a essas dúvidas, os relatos dos últimos dias de Jesus na terra
deixavam dúvidas, sobretudo após os acrescentos que incluíam a
ressurreição (os relatos da ressurreição não constam nos manuscritos mais
antigos, como é aceite pelos próprios Capuchinhos em nota à tradução de Marcos,
de 1993, e por todos os estudiosos[1]). Em
Lc 23:43 (ver também Mt 27:32-44; Mc 15:21-32; Jo 19:17-27) pode ler-se: καὶ εἶπεν αὐτῷ· ἀμήν σοι λέγω, σήμερον μετ’ ἐμοῦ ἔσῃ ἐν τῷ παραδείσῳ. (“E [Jesus] disse-lhe: em verdade [ἀμήν, amén] te digo, hoje comigo estarás no paraíso [παράδεισος,
paradeisos].” Jesus diz ao criminoso que está crucificado com ele que estarão
juntos no paraíso naquele mesmo dia. Mas, em Jo 30:17 (ver também Mt 28:8-10;
Mc 16:9-11) lê-se: λέγει αὐτῇ Ἰησοῦς· μή μου ἅπτου, οὔπω γὰρ ἀναβέβηκα πρὸς τὸν πατέρα· (“disse-lhe
Jesus: não me toques, pois ainda não ascendi até ao pai”). Ou seja, após a ressurreição
Jesus afirma que ainda não subiu até ao pai, o que é entendido como não
tendo subido ao Céu. No entanto, Jesus dissera antes da própria morte que
naquele mesmo dia estaria com o criminoso num lugar a que dá o nome de παράδεισος (termo de
origem persa que significava jardim fechado, parque, lugar de
prazer e deleite). Estas passagens são todas muito difíceis de interpretar.
O que é “hoje”? O que é “paraíso”? O que é “subir até ao pai”? De qualquer
modo, ficou a ideia de que poderia existir mais do que um lugar onde os justos
poderiam residir. Ficou também a ideia de que aquele que morre antes da
ressurreição de Cristo não vai para o lugar que Jesus refere na expressão “até
ao pai”. Isto é, em resumo passa a ideia de que o lugar para onde vai o
criminoso, ainda que seja um lugar destinado aos justo, não é o mesmo lugar
para onde Cristo se encaminhará após a ressurreição e onde o Pai está presente.
Depois há a passagem também muito difícil de Lc 16:19-31. Há aqui um
Lázaro e um rico que morrem. Lázaro vai para junto de Abraão e o rico vai para
o Ἅιδης, Hades. No Hades (ἐν τῷ ᾅδῃ) consegue
ver Abraão e Lázaro… Aparentemente estão todos no mesmo lugar, mas uns não
podem chegar aos outros devido à grandeza da distância (μάκροθεν) que os
separa. Mas Abraão e Lázaro parecem estar bem e descontraídos enquanto o rico
se mostra desagradado com a sua sorte. Parece que o rico está num lugar de
sofrimento e Lázaro num lugar apreciável.
Há ainda 1 Ped 3:19 que afirma que Jesus foi pregar aos espíritos sob
custódia, isto é, presos (καὶ τοῖς ἐν φυλακῇ πνεύμασιν πορευθεὶς ἐκήρυξεν). Estes
espíritos, diz-se no verso 20, eram por vezes desobedientes no tempo de Noé,
tempos em que Deus esperava na sua grandeza de coração (μακροθυμία, paciência
– literalmente: longo-desejo). Estranho é isto: foi Jesus pregar aos
espíritos do tempo de Noé? Noé é anterior à Lei. É o tempo em que Deus era
paciente… tudo isto é estranho. Sobretudo o facto de Jesus ir pregar aos
mortos!
Ora bem, os teólogos, como por exemplo, Pearlman, acreditam que Jesus
foi libertar os Santos do Antigo Testamento. Não só os Profetas que, por já
esperarem Cristo, se salvariam, mas também todos os Patriarcas.
Estas ideias parecem-nos estranhas (a mim parecem), mas a verdade é que
isto pertence à fé desde o Concílio de Trento (ver Decretum de
iustificatione) e está no Catecismo oficial:
“512. Relativamente
à vida de Cristo, o Símbolo da Fé apenas fala dos mistérios da Encarnação
(conceição e nascimento) e da Páscoa (paixão, crucifixão, morte, sepultura,
descida à mansão dos mortos, ressurreição, ascensão).”
O Credo
Pequeno, Símbolo da Fé dos Apóstolos, diz, de facto: “padeceu sob Pôncio
Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia”.
“632. As
frequentes afirmações do Novo Testamento, segundo as quais Jesus «ressuscitou
de entre os mortos» (1 Cor 15, 20) (528), pressupõem que,
anteriormente à ressurreição, Ele tenha estado na mansão dos mortos (529), este
o sentido primeiro dado pela pregação apostólica à descida de Jesus à mansão
dos mortos: Jesus conheceu a morte, como todos os homens, e foi ter com eles à
morada dos mortos. Porém, desceu lá como salvador proclamando a Boa-Nova aos
espíritos que ali estavam prisioneiros (530).
633. A morada dos mortos, a que Cristo
morto desceu, é chamada pela Escritura os infernos, Sheol ou Hades (531),
porque aqueles que aí se encontravam estavam privados da visão de Deus (532). Tal era o caso de todos os mortos, maus
ou justos, enquanto esperavam o Redentor (533), o que não quer dizer
que a sua sorte fosse idêntica, como Jesus mostra na parábola do pobre Lázaro,
recebido no «seio de Abraão» (534). «Foram
precisamente essas almas santas, que esperavam o seu libertador no seio de
Abraão, que Jesus Cristo libertou quando desceu à mansão dos mortos»
(535). Jesus não desceu à mansão dos mortos para de lá libertar os condenados
(536), nem para abolir o inferno da condenação (537), mas para
libertar os justos que O tinham precedido (538).
634. «A Boa-Nova foi igualmente
anunciada aos mortos...» (1 Pe 4, 6). A descida à mansão dos mortos é o
cumprimento, até à plenitude, do anúncio evangélico da salvação. É a
última fase da missão messiânica de Jesus, fase condensada no tempo, mas
imensamente vasta no seu significado real de extensão da obra redentora a todos
os homens de todos os tempos e de todos os lugares, porque todos aqueles que se
salvaram se tornaram participantes da redenção.”
Como se vê,
ninguém antes de Jesus pudera ser salvo. Mesmo aqueles que podem ser chamados justos e que eram almas santas, estavam
aí, no Hades, no mesmo sítio onde estavam os maus. E foi Jesus que lá os foi
resgatar.
Ou seja,
ninguém foi para o céu antes de Jesus nascer. Ver ainda a Divina Comédia, de Dante, que retrata este aspecto no Canto IV.
A este local
chamou-se pela tradição Limbo dos Patriarcas (limbus patrum), precisamente porque era o limbo em que
estavam os Patriarcas do Judaísmo.
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Outros pontos do Catecismo que me suscitam interesse
Note-se o ponto
553:
553. Jesus confiou a Pedro uma autoridade
específica: «Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra
será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos
céus» (Mt 16, 19).
Por Pedro
entende-se o Papa, como seu sucessor. Pedro é “o único a quem confiou
explicitamente as chaves do Reino”. No entanto, ao longo da história o Papa
decidiu abrir as portas do céu em nome de favores políticos ou económicos. É
legítimo perguntar: se o Papa detém explicitamente as chaves do Reino de Deus,
e se tudo o que ele faz na terra é reconhecido nos céus, isso significa que
todos esses actos que envergonham hoje a Igreja foram respeitados no Reino dos
céus? Se assim é, então de facto venderam-se lugares no céu.
O MAGISTÉRIO DA IGREJA
85. «O encargo de interpretar autenticamente a
Palavra de Deus, escrita ou contida na Tradição, foi confiado só ao Magistério
vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo (51), isto
é, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma.
Note-se que por
“em comunhão” entende-se aqueles que não foram excomungados pelo sucessor de
Pedro. Isto é, o ponto 85 não significa que o Papa deve interpretar em conjunto
com os Bispos, mas sim que a interpretação de um Bispo em particular apenas é
“válida” se esse Bispo estiver em comunhão com o Papa.
OS DOGMAS DA FÉ
88. O Magistério da Igreja faz pleno uso da
autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando propõe,
dum modo que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, verdades
contidas na Revelação divina ou quando propõe, de modo definitivo, verdades que
tenham com elas um nexo necessário.
Quando o Papa
(“Magistério da Igreja”) define um dogma a adesão é obrigatória. A não adesão a
um dogma de fé, definido pelo Papa como tal, significa que não se é parte do
povo cristão, e tem efeitos de excomunhão caso se venha a comprovar. O Dogma da
infalibilidade pontifícia é declarado em 1870 no concílio Vaticano I. Ver
também a Constituição Dogmática Lumen
gentium, cap. III, 18: “Este sagrado Concílio propõe de novo, para ser
firmemente acreditada por todos os fiéis, esta doutrina sobre a instituição
perpétua, alcance e natureza do sagrado primado do Pontífice romano e do seu
magistério infalível […]”.
Os pontos 192 a
196 definem o Símbolo dos Apóstolos (conhecido
como credo pequeno) como resumo
fundamental da fé e o Símbolo de Niceia-Constantinopla
(Credo de Niceia-Constantinopla) como complementar. Por outro lado, diz que os
restantes Símbolos, isto é, credos elaborados ao longo da História,
não estão ultrapassados: “Nenhum dos símbolos dos diferentes períodos da vida
da Igreja pode ser considerado ultrapassado ou inútil.” Apesar de tudo, é o de Niceia-Constantinopla que apresenta mais
conteúdo e é mais objecto de discussão entre teólogos de diferentes Igrejas.
266. «Fides autem catholica haec est, ut unum
Deum in Trinitate, et Trinitatem in unitate veneremur, neque confundentes
personas, neque substantiam sepa-raptes; alia enim est persona Patris, alia
Filii, alia Spiritus Sancti: sed Patris et Filii et Spiritus Sancti una est
divinitas, aequalis gloria, coaeterna majestas (88) – A fé católica é esta: venerarmos um só Deus na Trindade e a Trindade
na unidade, sem confudir as Pessoas nem dividir a substância: porque uma é a
Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas do Pai e do
Filho e do Espírito Santo é só uma a divindade, igual a glória e coeterna a
majestade».
267. Inseparáveis no que são, as
pessoas divinas são também inseparáveis no que fazem. Mas, na operação divina
única, cada uma manifesta o que Lhe é próprio na Trindade, sobretudo nas
missões divinas da Encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo.
Agora especial atenção para o seguinte
ponto. Aqui diz-se para que é que o mundo foi criado.
319. Deus criou o mundo para
manifestar e comunicar a sua glória. Que as criaturas partilhem da sua verdade,
da sua bondade e da sua beleza – eis a glória, para a qual Deus as criou.
O mundo foi
criado para “glória” de Deus. Depois esclarece-se convenientemente que glória significa partilhar a verdade, a
bondade e a beleza de Deus. Mas, então, e o Mal?
324. A
permissão divina do mal físico e do mal moral é um mistério, que Deus esclarece
por seu Filho Jesus Cristo, morto e ressuscitado para vencer o mal. A fé dá-nos
a certeza de que Deus não permitiria o mal, se do próprio mal não fizesse sair
o bem, por caminhos que só na vida eterna conheceremos plenamente.
Ou seja: não
sabemos explicar o mal, nem o físico nem o moral, excepto pela assumpção de que
“na vida eterna” viremos a ser esclarecidos. Mas, mais à frente, diz-se: “338. Nada
existe que não deva a sua existência a Deus Criador”. Nada existe, nem sequer o mal, que não deva a sua existência a Deus.
328. A
existência dos seres espirituais, não-corporais, a que a Sagrada Escritura
habitualmente chama anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura é tão
claro como a unanimidade da Tradição.
510. Maria
permaneceu «Virgem ao conceber o seu Filho, Virgem ao dá-Lo à luz, Virgem
grávida, Virgem fecunda, Virgem perpétua» (183); com todo o seu
ser; ela é a «serva do Senhor» (Lc 1, 38).
Note-se que Maria é considerada virgem mesmo depois de dar à luz e para
sempre, apesar dos irmãos que Jesus teve. É importante porque para os Judeus,
como para todos os povos antigos, a virgindade tinha que ver com o rompimento
do hímen. O que era estranho em Maria não era tanto a imaculada concepção, mas
sim que tivesse permanecido virgem mesmo depois de dar à luz. A virgindade de
Maria foi defendida, pelo menos, desde Santo Agostinho (ver a nota 183 ao ponto
510 do Catecismo, bem como a De sancta virginitate). No entanto, apenas
em 1854 foi tornado dogma, a 8 de Dezembro, pela bula Ineffabilis Deus
(portanto, antes da própria definição da infalibilidade pontifícia em 1870). E
em 1950, já recorrendo à infalibilidade, o Papa Pio XII proclama a Assumpção da
Virgem em corpo e alma ao céu – o
que é algo diferente da simples virgindade. Ver A renovação da teologia e do
culto marianos, Sylvie Barnay, In História do Cristianismo, dir.
Alain Corbin. O concílio Vaticano II reafirma e reforça o dogma da virgindade
de Maria (ver constituição dogmática Lumen Gentium).
A virgindade de Maria aparece nas escrituras, mas é, provavelmente, uma
ideia derivada de um erro de tradução. É que nos tempos de Jesus as escrituras
eram lidas não no original hebraico nem no aramaico corrente, mas sobretudo em
grego, segundo a tradução dos Setenta (Septuaginta). Aqui, na Septuaginta,
a palavra hebraica העלמה, ha'almah, a jovem, é vertida para ἡ παρθένος, a virgem. Era esta a versão conhecida por
Marcos, Mateus, Lucas, João, Paulo, até mesmo Santo Agostinho séculos depois
lia o grego e não o hebraico. Comparar a respeito disto Isaías 7:14,
Mateus 1:23 e Lucas 1:24. Discuto isto em http://discutirfilosofiaonline.blogspot.pt/2012/04/virgem-ou-jovem-isaias-147.html.
Como se pode ver se se fizer a comparação, Mateus está claramente a citar
Isaías a partir do texto da Septuaginta, e este texto que anuncia Emmanuel
afirma, na tradução grega, que este nasceria de uma virgem. Mas o que está no
original não é uma virgem, mas uma jovem mulher.
Proponho ainda a leitura do Manual das Indulgências. Está na Net
e publicado em vários idiomas.
[1] Os
manuscritos dos evangelhos mais antigos são relativos a São Marcos e só
apresentam o texto até 16:8. Os versos 9-20 não existem nos testemunhos mais
antigos (ver The Greek New Testament, fourth revisited edition, para
confirmar todos os manuscritos que possuem e não possuem esses versos, bem como
a datação dos mesmos – os manuscritos de Eusebius, Epiphanius, Hesychius (?) e
Jerónimo, que já apresentam esta parte, são já de Padres da Igreja e estamos a
falar de qualquer coisa como do século IV). Os relatos mais antigos da
ressurreição não estão nos textos sobre Jesus (Evangelhos e Actos dos
Apóstolos), mas sim em Paulo (ver 1 Cor 15:3-8). Os historiadores
consideram, regra geral, que a ressurreição não faz parte da vida histórica de
Jesus (ver, por exemplo, A verdadeira História de Jesus, Sanders, ed.
notícias, 4ª ed (2004), p. 343 e seg.; A Vida de Jesus, Ernest Renan,
Vida Editores, p. 250; Jesus de Nazaré, Joachim Gnilka, Ed. Presença, 1ª
ed., p. 302). Teologicamente, a ressurreição é fundamental e não pode ser posta
em dúvida.
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