"As pessoas de experiência defendem que é muito importante começar do princípio. Concedo-lhes isso e começo com o princípio de que todos os homens são aborrecidos. [...] O aborrecimento é a raiz de todo o mal."
Kierkegaard, Ou isto/ Ou aquilo, Rotação de Culturas.
"[para a alma é] um sofrimento insuportável estar obrigado a viver consigo mesma, e a pensar em si. [...] Essa é a origem de todas as ocupações tumultuosas dos homens..."
Pascal, Pensées, XXVI
O aborrecimento é constitutivo do humano. A fuga ao
aborrecimento dá forma à sua vida centrífuga e diletante. Mas essa fuga
corresponde (isto é, é acompanhada de) à fuga de si mesmo para qualquer
distracção que o possa afectar e ajudar a camuflar-se, criando-se à medida que
perde contacto consigo. O filósofo não está livre disso. Analisa o conceito de
"fuga de si" em Platão, em Pascal, em Kierkegaard, em Heidegger, e
sem dar por isso domesticou o próprio conceito de fuga: na verdade foge de si estudando
o conceito de fuga de si. Sócrates dizia apenas: deixemos Homero quieto,
deixemos Simónides sossegado, examinemos a nós próprios.
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