A propósito de medo e perigo...
Estudos sobre psicopatas revelam que os psicopatas sentem medo, mas não reconhecem o perigo. Portanto, a estrutura do medo não está na dependência de objectos. Isto é interessante, porque é, justamente, o que Aristóteles dizia.
Segundo Aristóteles, o medo é independente da situação que o faz eclodir. Ou seja, um leão mete medo, mas mete medo porque há em nós uma estrutura que faz dele algo que mete medo. Mas, justamente porque é uma estrutura dada à partida no humano, independentemente, portanto, de qualquer que venha a ser o caso no mundo, pode acontecer que se tenha medo sem causa aparente. Quer dizer, é perfeitamente possível que eu tenha medo sem conseguir encontrar a causa dele - sem que haja um objecto concreto que mete medo. Como se sabe, este é o pior dos medos, o medo que não está limitado por um objecto pode crescer infinitamente, abocanhar o mundo inteiro e ainda lhe sobrar barriga para nos engolir a nós mesmos.
E a ciência - tantas vezes disposta a ridicularizar Aristóteles - descobre agora que o medo é uma coisa, e o perigo outra. Um sujeito pode ter medo sem que isso implique a identificação de um perigo. E, no caso dos psicopatas, não se encontra nada perigoso, de modo que tudo parece fácil. Um psicopata é capaz de fazer tudo, nada lhe mete medo, ultrapassa tudo, abdica de tudo pelo seu querer único, sacrifica tudo pelo seu amor.
Ao psicopata nada mete medo, por isso mesmo não precisa de coragem. Como Aristóteles dizia: ter coragem não é não ter medo, ter coragem é resistir ao perigo, sentir medo do que mete medo e resistir-lhe. Mas quando nada nos mete medo e o mundo está desprovido de perigos não precisamos de coragem para nada.
E, no entanto, até o psicopata sente medo.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
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