A propósito do humano enquanto "ente capaz de deveres".
Um dos princípios éticos decisivos é que uma acção só pode constituir um dever no caso de o sujeito ser capaz de realizá-la. Como é evidente, do princípio de que "ser capaz de" é condição necessária do dever não se segue que seja condição suficiente. Porque, se "ser capaz de fazer x" fosse condição suficiente para que "x seja meu dever", então o dever seria completamente arbitrário - isto é, corresponderia à negação da própria noção de dever. Pois, bastaria que um sujeito fosse capaz de matar outro para que isso pudesse ser seu dever.
Kierkegaard discute, em vários momentos, este princípio. O princípio, por um lado, é intuitivo: o dever tem de corresponder a algo que possa ser formulado como obrigação - ou seja, como algo a que eu sou obrigado. Eu não posso ser obrigado a fazer algo que está fora das minhas possibilidades efectivas. Assim, aquilo que não sou capaz de fazer não pode constituir um dever para mim.
Por outro lado, o princípio parece contra-intuitivo. Suponha-se que me emprestam dinheiro e quando chega o momento de pagar a dívida "não sou capaz de a pagar". Significa isso que o meu dever de pagar esta dívida não existe? Não parece ser esse o caso. O que falta aqui?
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
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