A propósito de ideias novas...
A hipocrisia do género humano segundo Kierkegaard
A hipocrisia, segundo Kierkegaard, não é apenas uma tendência inata à estrutura do indivíduo humano, mas também qualquer coisa que se pode verificar em termos históricos.
A dada altura surge no mundo uma ideia nova. Como ideia nova ela deve entusiasmar as pessoas que se apressam a colocá-la em circulação. Justamente, em circulação, diz Kierkegaard, como acontece com o dinheiro. Posto a circular passa de mão em mão, ao fim de algum tempo o seu significado inverte-se completamente.
Por exemplo, o Cristianismo, segundo Kierkegaard, introduziu no mundo a ideia de pecado, uma ideia nova que eleva o humano na medida em que lhe dá um requisito mais alto. Mas a ideia, posta a circular, sofre o efeito das mais variadas transacções, de modo que, ao fim de alguns séculos, como que por efeito de inflacção (que é o processo histórico da desvalorização de um critério de medida...), o seu significado inverte-se completamente.
A ideia do pecado correspondia a uma ideia nova, pois o homem já sabia que podia errar, falhar, mentir e cometer crimes - mas não sabia ainda que podia pecar. Com a noção de pecado introduz-se uma categorização completamente nova, uma medida completamente outra. Mas esta noção, posta a circular, foi sofrendo pequenas mutações até que, finalmente, significa o oposto - exactamente o oposto - do que significava na origem.
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