quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Feminismo ou igualdade?

A propósito de feminismo...


Quando falamos de situações concretas, como o acesso a uma posição numa empresa, é evidente que as condições de partida devem ser idênticas. 

Mas o problema em torno do "feminismo vs machismo", ou do "machismo vs igualitarismo" é mais complexo - penso eu - porque não inclui apenas requisitos desse tipo, mas também injunções gerais. Ao contrário do que alguns filósofos populares dizem, o feminismo nunca se caracterizou por defender a superioridade da mulher, mas sim por defender a igualdade. As feministas mais radicais exigiam igualdade absoluta, por isso queimavam "soutiens" na rua: os homens não usam. 

Ou seja, o feminismo não é uma apenas uma teoria sobre condições de trabalho, ordenados, etc., mas sobre normas sociais, o estatuto da noção de "género", etc. Essencialmente, o feminismo acredita que, naturalmente, não há géneros, que o género é uma instituição social. Que não há razão nenhuma para serem as mulheres a cuidar dos filhos, para as mulheres vestirem saias, etc. Ou seja, o feminismo puro e duro defende o desaparecimento do "género mulher" (não, como é óbvio, o desaparecimento das fêmeas, porque isso extinguiria a espécie). Isto é bastante claro em muitas autoras, não só europeias, mas também americanas, mais ou menos recentes, de várias correntes, desde as heideggerianas, às marxistas...

Ora, Nietzsche tinha um problema com isto porque discordava, justamente, do desaparecimento do "género mulher". 
Em primeiro lugar, a decisão de eliminar um dos géneros tem de ser fundamentada. Em segundo lugar, a preferência pelo "género homem" (paradoxalmente, é isso que o feminismo faz: prefere o "género homem") tem de ser justificada de tal modo que exclua a legitimidade das outras alternativas, incluindo, naturalmente, a hipótese de não eliminar nenhum dos géneros e apenas introduzir modificações (alterando hábitos, rotinas, padrões de julgamento, educação, etc.). Por exemplo, pode-se introduzir modificações no género, que é aquilo que a sociedade tem feito, porque hoje as mulheres já podem vestir calças, cortar o cabelo curto, etc.

Nietzsche achava que eliminar o "género mulher" era amputar o género humano. Por princípio, desconfiava de tudo aquilo que torna igual, que faz dos humanos simples exemplares da espécie. De facto, Nietzsche mais rapidamente aceitaria que o género humano precisa de ser superado, do que que o "género mulher" precisa de ser eliminado.

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