terça-feira, 23 de abril de 2013

O copo meio

A propósito de compreensão e sentido...


Para uns o copo está meio cheio, para outros meio vazio. Uns dizem que ainda há água, e que isso é bom. Outros, que a água se vai, e que isso é mau. Mas nestas perspectivas há uma visão de conjunto, uma visão da vida mais profunda, e que é de tal modo anterior que engloba todas as compreensões subsidiárias daquilo que aparece. No caso em apreço está pressuposto que a água é boa... mas será que não poderia acontecer que ter o copo vazio ou o copo cheio não alterasse nada de fundamental? E isso não quer dizer que não se precise de água para viver.

Há, de facto, uma compreensão profunda, que vem de há milénios, e que hoje parece estar perdida: viver não é um fim em si mesmo, não vale tudo para viver, ou, o que é o mesmo, se tudo o que vale só vale na medida em que nos permite continuar a viver, então viver não vale de nada, porque o ponto não é o que nos permite viver, mas o que nos faz viver: para que é que vale a pena viver?

Parece, no entanto, que enquanto se está ocupado a de cada vez garantir a sobrevivência não emerge tão facilmente a pergunta sobre para quê sobreviver - e isso significa que já há uma resposta em funcionamento.

Cada momento da vida é uma certa, explícita ou implícita decisão relativamente à possibilidade extrema que de cada vez acompanha cada possibilidade. Cada momento de viva é um momento em que ainda não se morreu, mas também e sobretudo um momento em que o sujeito ainda não se suicidou. Cada momento da vida é antes de mais nada uma escolha, explícita ou inexplícita. E essa escolha ninguém a pode fazer por ninguém, ninguém se pode retirar dela. A única coisa que não se pode deixar de fazer é estar perante um OU/OU...

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