Metáfora
do sapato §67 do prefácio de A Fenomenologia do Espírito:
// Von allen Wissenschaften, Künsten, Geschicklichkeiten,
Handwerken gilt die Überzeugung, daß, um sie zu besitzen, eine vielfache
Bemühung des Erlernens und Übens derselben nötig ist. In Ansehung der
Philosophie dagegen scheint itzt das Vorurteil zu herrschen, daß, wenn zwar
jeder Augen und Finger hat, und wenn er Leder und Werkzeug bekommt, er darum
nicht imstande sei, Schuhe zu machen, jeder doch unmittelbar zu philosophieren
und die Philosophie zu beurteilen verstehe, weil er den Maßstab an seiner
natürlichen Vernunft dazu besitze – als ob er den Maßstab eines Schuhes nicht
an seinem Fuße ebenfalls besäße.//
Tradução de J. B. Baillie:
"In all spheres of science, art, skill, and handicraft it
is never doubted that, in order to master them, a considerable amount of trouble
must be spent in learning and in being trained. As regards philosophy, on the contrary,
there seems still an assumption prevalent that, though every one with eyes and fingers
is not on that account in a position to make shoes if he only gets leather and a
last, yet everybody understands how to philosophise straight away, and pass judgment
on philosophy, simply because he possesses the criterion fordoing so in his natural
reason —as if he did not in the same way possess the standard for shoemaking too in his own foot."
Parece que a Filosofia é uma actividade imediatamente à mão, fácil e natural. Parece que a Filosofia não exige um posicionamento adequado do sujeito face ao que nela está em causa. Parece que desde sempre o humano está sintonizado com o objecto da Filosofia. Não há que ter preocupação de maior.
Parece que, precisamente porque todos os homens podem ser filósofos, o senso comum pensa que, de facto, todos os homens são filósofos. Simplesmente, tal como uns homens comem mais e outros menos, também há uns que dedicam mais tempo e outros menos à Filosofia.
Parece que basta a qualquer um deixar a língua soltar umas opiniões sobre cada assunto abordado pela Filosofia.
Aliás, parece que qualquer um está imediatamente habilitado a proferir juízos de valor sobre o que todos e cada um dos filósofos alguma vez afirmou. A Filosofia parece ser aquela área sobre a qual qualquer um pode tecer críticas bem abalizadas, perfeitamente avisadas. O senso comum compreende-se como estando absolutamente legitimado a denegrir um qualquer sistema filosófico, mesmo sem saber nada daquilo que ele considera, bastando ter ouvido dizer que uma ou duas conclusões menos comuns fazem parte desse sistema.
Mas tudo isto é um equívoco. A Filosofia não exige menos técnica, menos esforço, menos trabalho, menos rigor, menos adequação, menos perícia que a matemática, a arte de fazer sapatos, ou qualquer outra ciência ou técnica. Na verdade, a Filosofia encontra na sua aparente acessibilidade um obstáculo que a Química não tem. E, afinal, o filósofo deve precaver-se a cada instante contra aquilo mesmo que torna o trabalho do cientista mais fácil: é que, enquanto este constrói sobre pressupostos, aquele deve procurar evidenciá-los e, tanto quanto possível, evitar ficar enrolado neles...
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