terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A dialéctica da honestidade

A propósito de honestidade e autenticidade

É qualquer coisa assim: (a análise fenomenológica em Kierkegaard tem de ser sempre dialéctica - isto é, não se pode determinar uma categoria sem a referência a uma outra - e sem, no limite, uma referência à estrutura fundamental do humano)

Do ponto de vista da autenticidade, quando o sujeito pensa que é honesto, então está a ser hipócrita - não há outra hipótese, se pensa que é honesto é hipócrita;
quando pensa que não está a ser honesto, pode ser que tenha ou não vencido a hipocrisia, mas isto só pode ser analisado dialecticamente - de onde se segue que

- quando pensa que não está a ser honesto, e não está a ser honesto, ele ainda se está a enganar e apenas diz que sabe que não é honesto para descansar a sua consciência, quando o decisivo não é admitir que não se é honesto, mas sim ser honesto; logo, do ponto de vista da autenticidade, ele está a ser hipócrita consigo mesmo;

- quando pensa que não está a ser honesto, e está a ser honesto ao dizer isso, então o decisivo já não é o que ele pensa que é, mas aquilo que ele está a fazer por vir a ser e, neste caso, ele com certeza não sabe se está ou não a ser honesto e, se portanto pensa que não está a ser honesto, isso significa que, no fundo, ele sabe que ainda havia mais alguma coisa no seu poder que poderia fazer e não faz, de maneira que, justamente porque é honesto quando diz que não é honesto, ele ainda está a ser desonesto; logo, do ponto de vista da autenticidade, ele está a ser hipócrita consigo mesmo.

Do ponto de vista da honestidade, quando o sujeito é autêntico, ele não sabe se é honesto.

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