A propósito de solidão...
Existencialmente, pensar é um acto solitário. Solitário mas não desacompanhado. Pensar é um acto em que eu faço companhia a mim mesmo: estar desacompanhado expressa que sou incapaz de me fazer companhia - e, então, é indiferente se estou junto a muitos outros ou se estou numa ilha deserta. Se estou ausente de mim mesmo posso, de facto, mergulhar nos outros, esquecer-me de mim junto dos outros, mas no fim do dia terei de regressar ao ermo interior em que, sendo eu um só, estou sem companhia - e o ser um só distraído junto dos outros é apenas uma forma distraída de estar desacompanhado.
A moderna busca de identidade é um equívoco. Um sujeito quer encontrar-se e então esvai-se pelo mundo, por aventuras dignas de um filme e leva, de facto, a sua vida como se fosse um filme, e é, portanto, tanto si mesmo ou está tão no encalço de si mesmo como um protagonista de um filme... Precisamente como uma personagem (máscara), justamente como num filme (ficção)...
Tenta-se resolver a crise de identidade nunca estando só, mas essa é justamente a crise de identidade...
Não há nada mais irónico do que um sujeito precisar, em ordem a encontrar-se, de viajar pelo mundo ou, para saber quem é, de experimentar muitas coisas ou, para querer alguma coisa, de perguntar ao mundo o que ele próprio quer.
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