Parece-me que podem existir sempre preconceitos nas posições em causa na discussão sobre os direitos dos animais e que, como sempre, trata-se de avaliar esses preconceitos; acontece, porém, que os preconceitos são transparentes, de tal modo que cada posição avalia os preconceitos dos outros pelos seus.
Quero dizer, se há responsabilidade, se há possibilidade de suspensão de um caminho natural e, portanto, responsabilidade sobre a adopção de um caminho, esta possibilidade (que pode ser apenas uma ilusão do ponto de vista - cfr. o mito oriental de Narada e Visnu - e o humano estar tão necessitado pela forma de vida em que se encontra a viver como qualquer lobo ou ovelha), se existe de facto, existe no humano (claro que aqui isto tem de ficar posto como mero preconceito porque não há aqui tempo nem lugar para discutir isto).
Portanto, por enquanto, e tanto quanto se sabe, o humano (e só ele, se de facto ele o é) é capaz de dignidade, de excelência, e de decadência, de maldade. Portanto, a haver qualquer direito, do humano ou do animal não humano, das pedras, das árvores, ou do vento, dos rios, do que se queira, isso há-de ter, primeiro e antes de tudo, de se evidenciar do modo como o humano se vê a si mesmo. Quer dizer, do que se tem para ser como posto pelo próprio humano (se ele é capaz de tal coisa).
Isto significa, por um lado, que teria de haver uma distância entre humano e natureza, de tal modo que o humano possa tornar-se senhor da sua natureza - ou melhor, a natureza do humano há-de estar no seu fim, e não num desenvolvimento tipo planta (no sentido de φύσις). O direito do animal só pode surgir sempre como reivindicação humana - e só se o humano se compreender a si mesmo de tal modo que a dignidade animal lhe diga alguma coisa sobre o como ele deve ser. A questão é que nós vivemos no "ter" e não no "ser", e deveríamos aspirar a não viver no "ser", mas no "vir-a-ser".
Tudo isto para dizer que me parece bem que se defendam os direitos dos animais, e até que se lhe dê os direitos que se achar por bem. Mas nunca esquecer que o leão tem um respeito pela zebra que não é aquele de que o humano é capaz (e capaz de não dar). Ou seja, se o humano não for mais do que um animal não humano, então não há nenhum direito a defender para os animais não humanos e devemos comê-los como o leão come a zebra.
Por isso defendo os direitos dos animais PORQUE o humano é capaz de ser mais do que um animal (se é que o humano é capaz disso, o que, obviamente, teria de ser discutido).
Sem comentários:
Enviar um comentário
discutindo filosofia...