É claro que o mandamento "desconhece-te a ti mesmo" é da pior espécie. Porque, para que ele pudesse ser útil, teria de verificar-se que aquilo que ele manda já não pudesse ser cumprido. Pior do que isso, é um mandamento tão ruim que se arrisca a criar as condições da sua própria inexecutabilidade. Pois, que forma há de criar mais desejo por um fruto do que proibir o seu consumo?
Mandar que alguém se conheça a si mesmo é parvo, mas de outra maneira. Porque ao mandar uma coisa cria resistência a isso. O sujeito pensa que lhe estão a chamar parvo. Por isso é parvo mandar alguém conhecer-se: nesse sentido em que leva essa pessoa a recusar-se a tal coisa. Por outro lado, se se descobre que há esforço envolvido, nada pode ser mais dissuasor.
É feliz o que se
ignora, infeliz o que se descobre. Mas terrível é ser incapaz de compreender a
própria sorte. Porquê? Só é terrível para ele enquanto sabe isso, mas se fosse
incapaz de o compreender, não compreenderia a sua infelicidade. O que é uma infelicidade
que se ignora? Será felicidade?
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