"O temperamento melancólico: aqui predomina um descontento vital. Mas não é este o aspecto fundamental do temperamento melancólico, caracterizado por lhe serem caras e duradouras as impressões afectivas. A melancolia deriva desse descontento vital, o qual se deriva, por sua vez, de quão profundamente batem as impressões no seu ânimo. Por isso se fala de melancolia profunda, pela intensidade das suas sensações. Concede a tudo uma importância desmedida."
Kant, Antropologia prática (segundo o manuscrito de Mrongovius)
"Aquele que está disposto na melancolia (não o melancólico; porque isto significa um estado e não a mera inclinação para um estado) dá a todas as coisas que dizem respeito a si mesmo uma grande importância, encontra em cada coisa razão para a ansiedade, e começa por dirigir a sua atenção para as dificuldades, ao contrário do que tem carácter sanguíneo que começa pela esperança do sucesso dos que querem subir; por isso aquele pensa também profundamente e este apenas superficialmente. Dificilmente promete alguma coisa: porque cumprir a palavra é para ele algo de sério, mas o poder cumpri-la é duvidoso. Não que tudo isso suceda por razões morais (pois aqui se fala de motivos sensíveis), mas por causa dele mesmo. A contrariedade afecta-o inconvenientemente, e por isso mesmo se faz ansioso, desconfiado e duvidoso, caracterizado também por uma incapacidade para a alegria. - Aliás, esse estado de espírito, quando é habitual, torna-se oposto, pelo menos quanto a encontrar estímulos para isso, ao dos Filantropos, que é mais próprio dos temperamentos sanguíneos: porque quem está privado da alegria em si [como é o caso dos que têm disposição melancólica], dificilmente a concede a outro."
Kant, Antropologia em termos pragmáticos, 288 (ed. da Academia, VII)
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