Sócrates para Alcibíades (110c)
Também quando eras criança julgavas conhecer, assim parece, o justo e o injusto.
ὤιου ἄρα ἐπίστασθαι καὶ παῖς ὤν, ὡς ἔοικε, τὰ δίκαια καὶ τὰ ἄδικα.
Fazemos aqui tão simplesmente um apontamento: Sócrates realça aqui dois aspectos (entre outros) fundamentais que constituem o ponto de vista humano natural.
1.º: não fazemos a mínima ideia do que seja o "erro";
2.º: estamos completamente convencidos de que sabemos isso.
A criança está convencida de que sabe o que é justo e injusto. Está convencida de que o sabe. Mas, se ela estiver errada, será que está em condições de o perceber?
Estarmos errados é condição suficiente para percebermos o erro em que estamos?
Não; na verdade, podemos estar perante o erro mais colossal e não o vermos.
Esta determinação do nosso ponto de vista é responsável por uma outra: a infinita revisibilidade do nosso ponto de vista.
Sabemos que já corrigimos o nosso ponto de vista várias vezes; estamos cientes de que já errámos muitas vezes. Mas permanecemos cegos para o facto de nos encontrarmos exactamente nas mesmas circunstâncias formais em que nos encontrávamos antes: simplesmente, podemos estar errados ainda e sempre...
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