Portanto, quando normalmente se acusa Kant de ter transformado o Dever numa coisa fria e sem sentimento não se percebeu nada do que ele diz. Pelo contrário: o Dever é uma paixão, um interesse, um amor incondicional.
O problema é que Kant não conseguiu demonstrar que a razão possa produzir qualquer coisa como um Dever, um constrangimento a agir. Ou seja, mesmo que seja verdade que a razão produz regras objectivas (e isto também não é imediatamente claro, nem parece que Kant o tenha demonstrado) - mas, mesmo que a razão produza regras objectivas, Kant não conseguiu de modo nenhum mostrar que a razão possa, por si mesma, dar-lhes a forma de constrangimento...
Como ele próprio admite, aquilo que não se consegue explicar é como pode uma regra racional tornar-se prática, como pode algo objectivo tornar-se subjectivo, como pode a razão compelir a agir, como pode a actividade racional produzir interesse por si mesma... tal como também não se consegue perceber como é que um sujeito pode - porque a experiência mostra que ele o pode - preterir um imperativo categórico e preferir um imperativo apenas condicional, quando o imperativo categórico é aquilo que é representado como objectivamente válido. Em resumo: não se consegue perceber como é que pode surgir tal coisa como o Dever - e depois também não se percebe de modo nenhum como é possível ao sujeito não cumprir o seu próprio Dever sem se suicidar a seguir...
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