segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Autárquicas de 2013 - crítica

A propósito de eleições, vencedores e derrotados

Autárquicas 2013

Vencedores e Derrotados

Tratando-se de eleições autárquicas, não penso que se devam inferir lições nacionais de casos particulares.
Dito isto, a nível nacional pode ser possível verificar tendências, generalidades que, de algum modo, podem permitir certas conclusões a nível nacional.
O PSD é a grande força autárquica em Portugal. Mas, a nível nacional, teve (até ao momento) 103 Presidentes de Câmara (PSD + coligações lideradas pelo PSD) contra 140 Presidentes de Câmara do PS (PS + coligações lideradas pelo PS).

Ora, se o PSD teve 103 câmaras contra 140 do PS é justo que se diga que o PSD é o grande derrotado.

A análise da situação do PS é mais complicada. Tem mais câmaras do que qualquer outra força política. Se considerarmos as situações em que PS e PSD concorreram sem coligações, o PS teve 36,4 % contra 16,61% do PSD, o que é um resultado bastante expressivo. Contudo, se considerarmos todas as situações em que PS e PSD lideraram a candidatura, então o PSD teve 37,55% contra 36,82% do PS. Portanto, se quisermos ser imparciais não podemos dizer sem mais que o PS teve mais votos, embora tenha sido o partido que, a concorrer sozinho, teve mais votos. Em 2009, a concorrer sozinho, o PS teve uma percentagem maior de votos (37,8%, mais de 2 milhões de votos) do que este ano (36,34%, 1,7 milhões de votos).

Ainda assim, o único vencedor é, suponho, o PS, porque teve mais candidaturas a vencer (e não porque teve mais votos, pois isso é outra discussão). As restantes forças políticas (e estou a falar a nível nacional) perderam. Quem em 300 tiver 1 câmara e passar a ter 5, enquanto outros têm 140 ou 100, não se dirá que ganhou, mas que, sendo um perdedor, melhorou.

A CDU é, dentro dos perdedores, um dos que melhorou a sua participação. É, por isso, em certo sentido, um vencedor. Teve mais votos, mais câmaras, mais vereadores do que em 2009, melhorou em toda a linha e não teve perdas a assinalar.

O CDS teve menos votos mas mais câmaras. Isto significa que melhorou, em termos de candidaturas que venceram, porque agora ganharam 5 candidaturas suas e, em 2009, ganhou só uma. Mas não deve ser esquecido que teve menos votos em absoluto e menos percentagem dos mesmos. Não ganhou estas eleições. Não é um vencedor. é vencedor apenas "em certo sentido", um sentido bem determinado: ganhou 5 câmaras em mais de 300, mas como antes só tinha uma, melhorou.

O BE é, a par do PSD, o outro partido que, de entre os perdedores, perdeu mesmo. Não há volta a dar-lhe, e com certeza que os simpatizantes do Bloco esperam (eu espero) que a liderança não se ponha a aventar desculpas, a tecer interpretações, leituras profundas e inteligentes que demonstrem que, afinal, o BE não perdeu ou até talvez tenha ganho. Porque se o BE se puser a fazer esse tipo de bailados acabará por demonstrar aos seus simpatizantes que não é diferente dos partidos alinhados. A coisa é relativamente simples: se o BE exigir, e parece que exige, ao PSD que tome lições nacionais destas eleições autárquicas, então o BE tem de reflectir internamente e tirar conclusões destas eleições autárquicas. Se o PSD deve tirar conclusões, o BE também. Se o BE assobiar para o lado e nada fizer quanto a si mesmo, perde toda a legitimidade moral para exigir ao Governo que o faça. É altura do BE mostrar que é diferente do PSD, diferente do Governo.

Passos Coelho. O Primeiro Ministro é o perdedor mais evidente. Em termos pessoal é ele o grande derrotado. Sobretudo, porque ele se envolveu. E perdeu.
O Seguro não é um vencedor claro, em termos pessoais. Não há dados objectivos que permitam confirmar uma vitória pessoal a nível nacional, nestas eleições. Nem António Costa. Mas António Costa ganhou Lisboa e isso vale muito - vale na medida em que António Costa queira. Os Lisboetas não ficariam irritados se ele saísse para Governar o país. Estas eleições autárquicas apenas confirmaram o Seguro como líder do PS na medida em que António Costa permita. Uma decisão de Costa e Seguro já era.

Alberto João Jardim. Jardim começou a perder a Madeira quando começou a perder a liberdade de gastar como quisesse e a habilidade de enviar ao Continente a conta. Mas antes de perder a Madeira perdeu o PSD-Madeira. Ganhou as eleições internas por uma unha negra. Nas eleições autárquicas de ontem ficou com 4 câmaras em 11. Foi outro derrotado - não a nível nacional, como é evidente, mas a nível regional. Vejamos até que ponto controla o seu Partido regional, os seus deputados na região e os seus deputados na Assembleia da República. Vejamos que artimanhas ele encontrará em cada uma destas plataformas para não abandonar o Poder.




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