quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Milagres... Os milagres de Vespasiano

A propósito de milagres...

Tácito deixou este relato de duas curas operadas por Vespasiano, o César, Imperador de Roma.

"Nos meses em que Vespasiano, em Alexandria, esperava os dias dos ventos de Verão e mar estável, muitas maravilhas (miracula) aconteceram, as quais mostraram o favor do céu e a inclinação das divindades por Vespasiano. Um dos plebeus de Alexandria, conhecido pelo declínio dos olhos, prostrou-se de joelhos e implorou, soluçando, por um remédio para a cegueira, a conselho do deus Serapis, a quem o povo cultivava entregando-se-lhe com superstição mais do que a qualquer outro; suplicou ao príncipe que se dignasse borrifar as suas bochechas e órbitas dos olhos com cuspo. Outro, com uma mão doente, por conselho do mesmo deus, pediu que o César lha calcasse com a planta do pé. Primeiro, Vespasiano riu, recusou; e eles insistiam de modo que ele temeu uma fama vã, mas por outro lado a teimosia deles e as vozes dos aduladores induziram-no em esperança. Por fim, solicitou que os médicos estimassem se tal cegueira e debilidade estavam acima de ajuda humana. Os médicos discutiram diversos pontos: num deles a força da luz não fora consumida e poderia voltar se se atacasse o obstáculo; no outro, as articulações deslocadas, se aplicada força curativa, poderiam restaurar-se; talvez os deuses o quisessem e o divino ministério tivesse escolhido o príncipe; por fim, o sucesso do remédio seria a glória do César, enquanto o ridículo em caso de insucesso caíria sobre os desafortunados. Assim, Vespasiano, acreditando que tudo era possível à sua sorte e que nada mais seria inacreditável, com o seu semblante alegre, entre a multidão em expectativa, acedeu aos pedidos. Imediatamente, a mão voltou ao uso, e o dia brilhou para o cego. Os que estiveram envolvidos nisto ainda hoje o relembram quando nada ganhariam com a mentira."


Per eos mensis quibus Vespasianus Alexandriae statos aestivis flatibus dies et certa maris opperiebatur, multa miracula evenere, quis caelestis favor et quaedam in Vespasianum inclinatio numinum ostenderetur. e plebe Alexandrina quidam oculorum tabe notus genua eius advolvitur, remedium caecitatis exposcens gemitu, monitu Serapidis dei, quem dedita superstitionibus gens ante alios colit; precabaturque principem ut genas et oculorum orbis dignaretur respergere oris excremento. alius manum aeger eodem deo auctore ut pede ac vestigio Caesaris calcaretur orabat. Vespasianus primo inridere, aspernari; atque illis instantibus modo famam vanitatis metuere, modo obsecratione ipsorum et vocibus adulantium in spem induci: postremo aestimari a medicis iubet an talis caecitas ac debilitas ope humana superabiles forent. medici varie disserere: huic non exesam vim luminis et redituram si pellerentur obstantia; illi elapsos in pravum artus, si salubris vis adhibeatur, posse integrari. id fortasse cordi deis et divino ministerio principem electum; denique patrati remedii gloriam penes Caesarem, inriti ludibrium penes miseros fore. igitur Vespasianus cuncta fortunae suae patere ratus nec quicquam ultra incredibile, laeto ipse vultu, erecta quae adstabat multitudine, iussa exequitur. statim conversa ad usum manus, ac caeco reluxit dies. utrumque qui interfuere nunc quoque memorant, postquam nullum mendacio pretium.

Tácito, Historiae, IV, 81 




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