quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Desespero e infinito

A propósito do desespero finito.


A estrutura formal do desespero inconsciente em Kierkegaard é: que o eu, em desespero pelo infinito, desespera sobre algo finito. Entretanto, a inconsciência do desespero em que se encontra pode ser de tal modo que nem mesmo se dá conta de que desespera no finito. Mas o ponto é: quando o fenómeno atinge certa intensidade, o sujeito dará, com certeza, por ele, contudo, faltam-lhe as categorias adequadas para posicionar correctamente o fenómeno: aponta para o finito e diz-se desesperado, e, sendo certo que está em desespero, o desespero em que se encontra não é aquilo a que chama estar desesperado.
Quando o desespero surge na sua categoria, o sujeito dá-se conta de estar no desespero e dá-se conta de si no desespero, de tal modo que percebe que a sua condição é a do desespero - que já e sempre está no desespero, ainda que só agora tenha percebido isso mesmo. O que surge, então, é uma forma de consciência do eu infinito, mas na forma negativa: como não sendo aquilo que desde sempre está destinado a ser - ainda que não faça a mínima ideia do que isso seja. Pois o que assim se evidencia para o sujeito é o seu estado de não-cumprimento de si enquanto estado originário, como condição.

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