sábado, 2 de setembro de 2017

A experiência como acontecimento anónimo de si

A propósito de experiência de vida...

A experiência de vida é um dos bois de ouro do nosso século. As pessoas acreditam que a experiência lhes ensina coisas, e não só isso, acreditam que a própria experiência é conhecimento. Acreditam até que a experiência é um bom critério para decidir como hão-de levar a vida e deixam-se guiar, assim, pelas experiências da vida. As pessoas depositam a sua confiança na experiência e julgam que ela é inabalável - a não ser, claro está, por outras experiências que venham a refutar a primeira... As pessoas pensam que aprendem com os acontecimentos e que vão formando, progressivamente, uma sabedoria de vida assim acumulada.

Basicamente, a experiência corresponde ao rosto da vida tal como é anonimamente oferecido ao sujeito. A experiência de vida é algo que já está inscrito na vida natural - quer dizer, um sujeito não tem de fazer nada para a adquirir: basta que se deixe estar na vida que ela há-de providenciar experiências. Depois, claro, depende daquilo que a vida trouxer, pois será nisso que se adquire experiência.

Mas, no essencial, quando as pessoas invocam a "experiência de vida" como testemunha e como prova, isso só mostra uma coisa: que as pessoas deixam que a sua vida seja conduzida anonimamente... E este é só mais um exemplo.


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