Depois da guerra contra os Titãs, os deuses olímpicos ficaram condenados a uma pasmaceira de morte, o que era particularmente grave dado que eram imortais. Assim, Zeus pediu a Prometeu e Epimeteu que criassem mortais para os deuses se distraírem. Nada como assistir a um bom espectáculo para passar o tempo.
Epimeteu começou, então, a criar animais. Com terra e água criou imensas formas e variados atributos, desde garras a asas, etc. Para cada animal criou um modelo e atribuiu a cada modelo determinados atributos, colocando cada espécie num lugar específico, fosse no ar, na terra ou no mar.
Estando Epimeteu muito embrenhado nisto e contente da sua arte em combinar formas, atributos e capacidades, chegou Prometeu para ver como se saíra o irmão. Mas ao chegar apercebeu-se que o irmão já distribuíra todos os modelos, todos os atributos e esgotara os lugares do mundo, o ar com as aves, a água com os peixes, a terra com os mamíferos, etc. Contudo, esquecera-se do humano.
Foi assim que o humano acabou lançado no mundo sem um lugar próprio para habitar, sem um modelo específico para viver, sem atributos e sem capacidades naturais. Deste modo, o humano não é nada, e precisamente porque não é nada, precisa de se tornar alguma coisa, de adquirir uma forma para si mesmo, de criar as suas ferramentas, de desenvolver as suas capacidades, de tomar um lugar do mundo para si. Mas, por natureza, o humano não está modelado, e qualquer que seja a configuração que vier a ter, terá de a adquirir em vida.
Tudo isso porque Epimeteu se distraiu e acabou por dar tudo aos restantes animais deixando o homem entregue à míngua, à escassez, à falta e à inospitalidade do mundo.
O que nos valeu ainda foi a extrema compreensão que Prometeu desde logo demonstrou para com o humano, começando por roubar o fogo para lhe oferecer - episódio que espoletou a saga da civilização.
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