sábado, 25 de novembro de 2017

«Amai os vossos inimigos»: uma conversão do coração

A propósito da noção de conversão cristã


«Mas eu [Jesus] vos digo, amai os vossos inimigos»
Mateus, 5: 44: ἐγὼ δὲ λέγω ὑμῖν, ἀγαπᾶτε τοὺς ἐχθροὺς ὑμῶν

Note-se que Jesus requer dos seus seguidores que amem os seus inimigos. Mas é como ἀγαπᾶν, não como φιλεῖν, que se pede que se amem os nossos inimigos. Na Septuaginta, agape é a palavra para o amor de Deus pelos homens, e dos homens por Deus. Significa qualquer coisa como "colocar em primeiro nas nossas afecções", implicando, por um lado, o acto da vontade de "colocar em primeiro" algo que, naturalmente, não se ama, e, por outro lado, a "afecção real" e a manifestação em actos dessa afecção (não apenas a intenção). Quer dizer, está em causa, não apenas uma "aspiração", ou um "desejo", por assim dizer, não consumado, ou que se tem vagamente, mas algo que efectivamente orienta a acção, não como uma mera lei que se cumpre, mas também como algo que se torna dominante "afectivamente". Ou seja, implica uma revolução disposicional no sujeito - por oposição à filia, ao amor que vem naturalmente e que atinge o sujeito, arrastando-o, ou pressionando-o a agir de determinada forma, sem que esta afecção tenha sido produzida por intervenção do sujeito sobre si mesmo.

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