quarta-feira, 18 de novembro de 2015

É aceitável mentir às crianças acerca do mal no mundo?

A propósito de um vídeo...







Flores protegem contra armas de fogo e bombas?

Bem, antes de ambandeirar em arco com qualquer lamechiche convém pensar um pouco.

Primeiro: penso que este pai não teria dito que sim, que as flores são para proteger contra os terroristas, se não estivesse naquela situação. Ele parece ser muito mais inteligente do que isso. Vê-se que o é ao dizer claramente ao filho que homens maus há-os em todo o lado! Teria sido tentador dizer à criança que "já passou", que "os maus serão vencidos", que "ficaremos em segurança", que "eu protejo-te"... Mas não: foi honesto e disse ao miúdo, e bem: há homens maus em todo o lado, por isso não vale a pena fugir!


Contudo, apanhado naquela situação, com a câmara mesmo ali, uma pessoa vacila e lá deixou ficar a ideia de que "as flores são para nos proteger". O que, como se sabe, é mentira: é mentira que as flores protejam contra bombas e é mentira que quem põe ali as flores seja para se proteger contra as bombas...

Quanto à primeira mentira: quem acha, com seriedade, que as flores protegem contra as armas e as bombas sugiro que faça o teste. A próxima vez que haja alguém a fazer reféns tente usar as flores como protecção para chegar perto dos maus e libertar os ditos reféns... Verá, para sua surpresa, que as flores não metem medo nenhum ao assaltante, ao raptor, ao terrorista que empunha uma metralhadora! Nem sequer as armas protegem contra as armas, quanto mais as flores!

Quanto à segunda mentira: se perguntarmos às pessoas que põem ali as flores poderemos ver que ninguém as ali está a pôr para se proteger das balas ou das bombas. Assim como também não pomos flores nos cemitérios para nos protegermos da morte. As flores não só não nos protegem dos terroristas como também não é para nos protegermos que usamos as flores! E o miúdo já sabia isso! Ora, enganar o miúdo - que já sabia que as flores não protegem ninguém - não ajuda ninguém, sobretudo, não ajudará o miúdo!

Naquela idade, as crianças tomam tudo literalmente. Não me parece ser a melhor estratégia lavá-las a acreditar que as flores protegem dos terroristas, das bombas, das balas.

Ora, nós não pomos flores para nos protegermos, mas sim para honrar os que morreram, para prestar homenagem e para mostrar respeito, bem como para assinalar o luto, o pesar que nos vai na alma. E, em segundo lugar, para com esse movimento sentirmos a pertença a uma comunidade e mostrarmos a nossa vontade de fazer parte dessa comunidade: a comunidade daqueles que estão unidos por certos sentimentos e certas crenças ou valores.

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