quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

O poeta e a acção

A propósito de poesia e acção.

«O homem de acção é sempre inconsciente.»
Goethe


O exercício poético é o da imaginação.
A actividade do poeta é a de imaginar ideais - ideais que não vive. O poeta é essencialmente um fingidor. Escreve longos poemas devotados ao amor platónico e logo a seguir vai ao bordel. Ou mesmo escreve sobre o amor platónico em pleno bordel.

Pessoa queixava-se de que a natureza não o talhara para a acção. 

"Mas ninguém pode ser julgado pelo que não fez, se a sua natureza o não talhou para homem de acção, ou se a sua lucidez não admite a parte de ilusão que toda a acção exige." (Jorge de Sena)


O que normalmente sobrevive ao poeta é a sua "obra". Não a sua acção. Desde os gregos que "poesis" se distingue de "práxis" (acção).

O campo do poeta é o estético, não o da "acção". A imaginação, não a "prática". 
O poeta cria. Há algo de divino no poeta. Já o homem de acção age. E há sempre algo de terreno em toda a acção. 

Os grandes poetas são sempre demasiado lúcidos e tal lucidez não admite a necessária inconsciência que toda a acção exige

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