quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Exaustão e depressão entre os alunos

A propósito de uma entrevista...

Quem quiser comparar os vários estudos/inquéritos aos alunos que têm sido feitos ao longo do tempo poderá confirmar o seguinte - ao longo dos anos:
- quanto mais se facilitam os conteúdos e o sistema de avaliação, mais os alunos se queixam de que a matéria é difícil, se queixam das notas e se consideram maus alunos;
- quanto mais se flexibilizam os conteúdos e se torna estes mais acessíveis e quanto mais se recorre a novas estratégias para fazer os conteúdos mais interessantes, mais os alunos a consideram aborrecida;
- quanto menos exames existem mais os alunos se dizem pressionados para os exames;
- quanto mais as escolas se enchem de actividades, de visitas de estudo, de mil e uma empreitadas destinadas a ocupar aulas sem ser a ter aula, mais os alunos se queixam de a matéria ser demasiada;

- em geral, quanto mais a escola se flexibiliza, mais os alunos se declaram pressionados; e quanto mais a escola facilita e se dinamiza, mais os alunos dizem não gostar da escola; e quanto menos exigente a escola é, mais tristes os alunos se declaram.

Antes de ter começado esta vaga que procura facilitar, flexibilizar, etc., os alunos diziam gostar mais da escola. Ou seja, ao longo dos últimos anos a escola tem procurado tornar-se mais agradável, e ao mesmo tempo os alunos dizem-se cada vez mais desagradados. Quando a matéria era mais difícil, mais rigorosa, mais extensa e não havia tantos malabarismos estratégicos, os alunos diziam - basta comparar as estatísticas - gostar mais da escola, gostar mais das matérias, e diziam que os conteúdos eram menos difíceis, menos chatos, etc. Quando a escola era mais rigorosa e menos flexível, os alunos diziam-se menos cansados, menos pressionados e menos depressivos. Nos anos em que houve mais exames e provas globais, os alunos diziam-se muito mais contentes com a escola do que hoje. E esta simultaneidade de dados (escola mais difícil, alunos mais satisfeitos) é consistente ao longo do tempo e nos vários países.

Curiosamente, no entanto...

Com tudo isto, alguns "entendidos" acham que aquilo que falta é flexibilizar mais, tornar a escola ainda menos exigente, tornar a escola numa brincadeira.

Seria interessante que os investigadores lessem alguma coisa sobre a sugestão de que, quanto mais se rebaixa um ideal, menos efeito dinamizador este tem.
Kierkegaard fala muito disto: os homens vão pondo a si mesmos ideais elevados e difíceis; depois vão esvaziando esses ideais, tornando-os mais fáceis, retirando-lhe o rigorismo, flexibilizando, etc., até que, por fim, o ideal se tornou uma bagatela acessível a qualquer bocejo; o resultado não é, contudo, que agora o sujeito se sente muito satisfeito com alcançar o ideal (que foi esvaziado do seu significado), mas sim que o sujeito se entedia com ele e cai na melancolia.

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