A questão parece ser a seguinte:
- a qualidade moral
de uma pessoa define-se pela
1) sua fidelidade ao ideal que tem, ou pela
2) qualidade do ideal a que se vincula, ou
3) pelos dois (pela fidelidade ao
ideal e pela qualidade deste)?
Se 1) está correcto, então Rorty tem razão quando diz que um nazi pode ser uma pessoa tão boa como qualquer um de nós, visto que é tão fiel ao seu ideal como nós somos, simplesmente, aquilo que toma como bem/fim/ideal/categoria orientadora difere daquilo que nós usamos.
Mas se 2) está correcto, então
haveria de aferir se um sujeito tem, de facto, a possibilidade de determinar os
seus próprios fins - o que, como se sabe, é muito complexo de avaliar, pois, à
partida, parece que podemos decidir dos MEIOS QUE usamos, dos modos COMO
prosseguimos, e da forma de vida EM QUE visamos os fins, mas não podemos
decidir dos fins, visto que o fim é, justamente, o critério de decisão. O
problema quanto à decisão dos fins coloca-se porque não parece haver meio de
ter uma categoria como critério de deliberação senão, justamente, a do fim que
se tem, seja ele qual for - o problema é, pelo menos, tão antigo como
Aristóteles, e não me parece que tenhamos avançado muito depois dele.
Mas se
não admitirmos nem 2), nem 3), caímos no problema de Rorty: como podemos culpar
os nazis por terem os fins que têm? Se somos sinceros ao dizer que não devemos
julgar ninguém por aquilo em que acredita - como parece ser o caso - então não
teremos de aplicar esse argumento também aos nazis e aos terroristas? Será que
queremos mesmo admitir que não podemos condenar os terroristas e os nazis pelas
crenças que têm?
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