quarta-feira, 21 de março de 2018

Não-especismo e domesticação

A propósito da rejeição do especismo

Para se ser absolutamente claro: o movimento de defesa dos animais, de carácter anti-especista e libertário, para ser honesto, deve estender a sua crítica à domesticação, visto que esta consiste na sujeição de espécies não-humanas a formas subtis e dissimuladas de violência, transformando-as em instrumentos e meios para satisfazer as necessidades, os desejos e o gosto estético dos humanos. A domesticação transforma outras espécies, durante várias gerações ao longo de milénios em bibelôs dos caprichos humanos. É, por isso, inerentemente arbitrária - do ponto de vista não-especista.

Qualquer anti-especismo deve, por isso, condenar a domesticação. Não digo que deva condenar a domesticação tout court, mas deve condená-la por princípio. Por princípio, ter um gato de estimação apenas difere da tourada em grau, mas não essencial ou qualitativamente.

Para se ser absolutamente claro: do ponto de vista não-especista a diferença entre ter um felino de estimação e tourear um bovino é meramente graditiva, tal como agressão à estalada se diferencia de uma agressão à paulada.

A única razão pela qual uma pessoa pensa que tem direito de «adoptar» um qualquer animal, sem mais, e mantê-lo como animal de estimação, e pensar tudo isto como algo legítimo que merece aprovação chegando ao cúmulo de o considerar como dever, é, precisamente, o facto de se tratar de um animal de outra espécie... porque ninguém pensaria assim se, em vez de se tratar de outra espécie, se tratasse de um ser humano. Só o especismo, ou uma forma dissimulada dele, pode legitimar a domesticação de animais. Tal como só o machismo poderia legitimar o cavalheirismo para com as mulheres. Só um machista pode ser cavalheiro. A domesticação de animais de estimação é uma forma snob e dissimulada de especismo.

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