A propósito de justiça e educação
Parece-me que o critério do historial do aluno, nomeadamente, das suas notas, deve ser progressivamente dominante na atribuição de vantagens ou determinação de preferências. Isto porque o sistema de ensino deve incentivar os bons alunos e que os alunos se tornem bons alunos. A igualdade no acesso não deve ser confundida com a desvalorização do esforço dos alunos. É só perfeitamente natural que os alunos que mais se esforçam sejam recompensados; tal como é natural que aqueles que têm menos capacidades sejam ajudados a suprir essas dificuldades. As duas dimensões têm de ser consideradas para evitar desequilíbrios que jamais poderão conduzir à justiça.
Mas acho extraordinário que se ache normal que um encarregado de educação displicente e um aluno absolutamente indiferente aos estudos fiquem chocados com o facto de o bom desempenho ser um factor a ter em conta... Já agora, convém relembrar que a escolaridade também serve para preparar os alunos para um dia se integrarem no sistema em que terão de apresentar resultados e mostrar competência, e onde eles mesmos vão querer ser avaliados pelas suas competências e pelos resultados do seu esforço - pois, como eles próprios irão verificar, sempre que o seu esforço não for reconhecido, sempre que trabalharem para apresentar resultados e, depois, alguém seja preferido por ter nascido assim ou assado, sentir-se-ão altamente injustiçados. Ora, se as pessoas sempre querem ver os seus esforços recompensados, por que razão têm tanta dificuldade em aceitar que sejam prejudicados por não terem resultados a apresentar? Se o sujeito que se esforça, trabalha, estuda e tem boas notas deve ser recompensado, isso tem de implicar sempre uma vantagem. E se a ausência de resultados não releva realmente de falta de esforço, mas de menores capacidades, então o Estado também tem de oferecer recursos para suprir essas dificuldades e, no limite, recorrer à discriminação positiva: mas note-se, só e apenas se a ausência de resultados se dever, de facto, a um deficit de capacidades ou a incapacidades reconhecíveis, e não ao mero "deixa andar que a escola também não serve para nada" que tantas vezes já ouvi - que estou farto de ouvir - e que não deve, de modo algum, ser incentivado.
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