A propósito das estórias de antigamente
Regra geral, as versões dos Grimm são bem mais sangrentas e cruas do que as versões actuais insossas e sem espírito. Mas a história da Capuchinho Vermelho contada pelos Grimm já é uma versão muito "politicamente correcta" da mesma. Nas versões mais antigas não havia lenhador. Na verdade, a Capuchinho Vermelho nem sequer usava um capuchinho vermelho... O Lobo Mau matava a avó, não a engolia ainda viva. Mais: o Lobo, depois de matar a avó, tirava-lhe o sangue para uma jarra e cortava-a às fatias. Quando a Capuchinho chegava, o Lobo dava-lhe o sangue e a carne da avó a comer, como se de vinho e carne vulgar se tratasse. Depois desse episódio canibalesco, o Lobo pedia à Capuchinho que se deitasse nua com ele. As perguntas eram bem diferentes, nada de "porque tens olhos tão grandes?"... À medida que a Capuchinho se despia, ia perguntando o que fazer com a peça de roupa despida e o Lobo mandava que a jogasse na fogueira. Além disso, a Capuchinho apenas observava que a avó era bastante "peluda", com "ombros largos", em tiradas com suposto teor sexual, até que, finalmente, notava os "grandes dentes" da avó. Depois desta última observação, com a Capuchinho já nua, o Lobo comia-a e pronto. Não havia lenhador - tópico acrescentado pelos Grimm - para salvar ninguém. A história acabava mesmo assim com a avó comida e bebida pela neta, e a neta comida pelo Lobo, uma verdadeira lição de vida sem lenhadores míticos ou salvamentos mágicos.
quinta-feira, 24 de agosto de 2017
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