A propósito do teste Turing de Eugene
Passou realmente no teste?
terça-feira, 30 de setembro de 2014
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Uma pessoa é um número?
A propósito das perspectivas de Nuno Crato e Passos Coelho
Ora bem, Portugal é o país que está melhor, embora os portugueses estejam pior... e o erro do MEC só afectou 2% dos professores.
Estas declarações distanciadas no tempo são, afinal, expressão do mesmo tipo de pensamento: aquele que reduz as pessoas aos números e às percentagens. Para este governo as famílias não interessam, a saúde mental e a estabilidade emocional das pessoas são negligenciáveis.
Há uma grave problema de perspectiva quando pessoas são tratadas como meras percentagens.
Tudo vai bem porque o erro afectou apenas 2%. Tu que estás no fundo aguenta porque és apenas uma pequena parte desses insignificantes 2%.
Mas o que dizer dos 2% que estão no topo da pirâmide socio-económica? Será que o Passos sabe ser tão bom em estatística quando se trata de lidar com esses 2%?
Ora bem, Portugal é o país que está melhor, embora os portugueses estejam pior... e o erro do MEC só afectou 2% dos professores.
Estas declarações distanciadas no tempo são, afinal, expressão do mesmo tipo de pensamento: aquele que reduz as pessoas aos números e às percentagens. Para este governo as famílias não interessam, a saúde mental e a estabilidade emocional das pessoas são negligenciáveis.
Há uma grave problema de perspectiva quando pessoas são tratadas como meras percentagens.
Tudo vai bem porque o erro afectou apenas 2%. Tu que estás no fundo aguenta porque és apenas uma pequena parte desses insignificantes 2%.
Mas o que dizer dos 2% que estão no topo da pirâmide socio-económica? Será que o Passos sabe ser tão bom em estatística quando se trata de lidar com esses 2%?
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Nero, imperador romano, o mais amado ou o maldito?
A propósito de percepções e factos
Nero, condenado à damnatio memoriae pelo Senado Romano...
Depois da morte de Nero, as manifestações de pesar foram tão significativas entre o povo que Otão, sucessor no trono, teve de adoptar à pressa o nome de Otão Nero. Permaneceu entre os romanos a crença de que o jovem imperador deveria voltar um dia...
Nero gostava de música, de poesia e das artes em geral...
Erigiu um enorme ginásio público, ao contrário das termas que até aí estavam reservadas à aristocracia. Assim, introduziu na cultura romana o conceito grego de educação física e intelectual dos jovens - mente sã, corpo são, mens sana in corpore sano - o qual se propagaria rapidamente pelo Império..
Fez várias obras públicas culturais e funcionais.
Acabou com os julgamentos secretos que Cláudio implementara e emitiu indultos.
Certa vez, ao pedirem-lhe para assinar uma sentença de morte lamentou ter aprendido a escrever.
Concedeu liberdade à Grécia como reconhecimento pelos seus contributos culturais.
Em vez de optar por incursões militares para angariar dinheiro decidiu taxar as classes mais abastadas. Muitas destas iniciativas políticas angariaram-lhe inimigos e o Senado opunha-se-lhe vigorosamente. Mas Nero fez o que pôde para ultrapassar a resistência do Senado.
Chegou a convidar toda a cidade de Roma para a Domus Aurea. Queria estar junto do povo, como um deus vivo. Apoiava-se nas massas e centrava em si todo esse poder.
Talvez o mais amado de todos os imperadores romanos reformou a ordem social tirando recursos aos senadores e distribuindo-os entre os pobres.
(fonte: National Geographic, Setembro 2014)
Nero, condenado à damnatio memoriae pelo Senado Romano...
Depois da morte de Nero, as manifestações de pesar foram tão significativas entre o povo que Otão, sucessor no trono, teve de adoptar à pressa o nome de Otão Nero. Permaneceu entre os romanos a crença de que o jovem imperador deveria voltar um dia...
Nero gostava de música, de poesia e das artes em geral...
Erigiu um enorme ginásio público, ao contrário das termas que até aí estavam reservadas à aristocracia. Assim, introduziu na cultura romana o conceito grego de educação física e intelectual dos jovens - mente sã, corpo são, mens sana in corpore sano - o qual se propagaria rapidamente pelo Império..
Fez várias obras públicas culturais e funcionais.
Acabou com os julgamentos secretos que Cláudio implementara e emitiu indultos.
Certa vez, ao pedirem-lhe para assinar uma sentença de morte lamentou ter aprendido a escrever.
Concedeu liberdade à Grécia como reconhecimento pelos seus contributos culturais.
Em vez de optar por incursões militares para angariar dinheiro decidiu taxar as classes mais abastadas. Muitas destas iniciativas políticas angariaram-lhe inimigos e o Senado opunha-se-lhe vigorosamente. Mas Nero fez o que pôde para ultrapassar a resistência do Senado.
Chegou a convidar toda a cidade de Roma para a Domus Aurea. Queria estar junto do povo, como um deus vivo. Apoiava-se nas massas e centrava em si todo esse poder.
Talvez o mais amado de todos os imperadores romanos reformou a ordem social tirando recursos aos senadores e distribuindo-os entre os pobres.
"Durante o seu reinado o Império viveu um período de paz, de esplendor grandioso e de importantes reformas."
O MODO COMO SE CONTA A HISTÓRIA, COMO SE SELECCIONAM FACTOS E ACONTECIMENTOS, INFLUENCIA DE MANEIRA DECISIVA A PERCEPÇÃO QUE TEMOS DAS GRANDES FIGURAS DO PASSADO.
(fonte: National Geographic, Setembro 2014)
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
A Máquina do Mundo, de Paulo José Miranda
A propósito de Mundo, Violência e Jogo
A Máquina do Mundo é um livro inquietante.
É um livro sobre o mundo, um livro sobre a violência, sobre a violência do jogo do mundo.
E se a violência for a essência do jogo? Se o mundo é mundo na violência? Se o jogo é jogo pela violência?
Percebemos facilmente que a natureza envolve violência: o leão caça a gazela. Admitimos esta violência, reconhecemos que a há. Assumimos que a sociedade é, também ela, violência. Como os peixes que se comem uns aos outros - porque a violência é exercida pelos fortes sobre os fracos, porque a violência é quando há desequilíbrio. Percebemos isto muito bem. Sabêmo-lo.
E se não é só isto?
Habitualmente, atribuímos a violência a uma qualquer forma de vício, de corrupção, como se fosse uma doença, uma deficiência crónica - não só do jogo, do sistema, mas também dos intervenientes, dos jogadores. Há violência porque o sistema está viciado por agentes corruptos - há agentes corruptos num sistema viciado. Um vicia, os outros corrompem - ou uice-uersa. É difícil discernir se é o jogo que vicia ou o mundo que se deixa corromper, se são os agentes que corrompem ou se deixam viciar. Percebemos isto mais ou menos.
E se não é só isto? E se a violência for a essência do jogo?
Pois, "o que seria do mundo sem violência?" E se a violência não for apenas um vício do sistema, não for apenas uma corrupção dos agentes? E se a violência é o mundo?
O mundo é na violência, mas também pela violência. Não há apenas violência no mundo: não haveria mundo sem violência. Não é só o leão que morre de fome sem violência - não é só o poderoso que não o seria sem a sua força, sem a sua capacidade de exercer poder sobre os fracos. A haver mundo, há violência. E se for de facto assim?
O mundo é a máquina onde se joga. O jogo é a essência do mundo e a essência do jogo é a violência.
Mas o mundo é complexo, a humanidade está hoje muito longe de ser uma tribo de agricultores, "e com o incremento de possibilidades aumenta a complexidade da liberdade". Quem pode dizer - quem pode saber se é livre?
E se dedicamos toda a nossa seriedade no jogo, se empenhamos a nossa alma ao mundo e ao lado disso fica a vida?
Quantas vidas teremos de perder no jogo para darmos conta de que podemos ter uma vida?
Este é um livro que não nos deixa indiferentes, que não parece ter sido feito para as tardes de bronze na praia. Um livro que nos faz pensar sobre o mundo, sobre a vida e sobre a morte. Que nos faz pensar sobre o valor da vida, de uma vida, da morte e de uma morte. E que, afinal, nos leva a interrogarmo-nos a nós mesmos sobre nós mesmos, a nossa natureza, ou a ausência dela, a nossa vida, ou a ausência dela... a consciência de si, ou a ausência dela.
A Máquina do Mundo, Paulo José Miranda
A Máquina do Mundo é um livro inquietante.
É um livro sobre o mundo, um livro sobre a violência, sobre a violência do jogo do mundo.
E se a violência for a essência do jogo? Se o mundo é mundo na violência? Se o jogo é jogo pela violência?
Percebemos facilmente que a natureza envolve violência: o leão caça a gazela. Admitimos esta violência, reconhecemos que a há. Assumimos que a sociedade é, também ela, violência. Como os peixes que se comem uns aos outros - porque a violência é exercida pelos fortes sobre os fracos, porque a violência é quando há desequilíbrio. Percebemos isto muito bem. Sabêmo-lo.
E se não é só isto?
Habitualmente, atribuímos a violência a uma qualquer forma de vício, de corrupção, como se fosse uma doença, uma deficiência crónica - não só do jogo, do sistema, mas também dos intervenientes, dos jogadores. Há violência porque o sistema está viciado por agentes corruptos - há agentes corruptos num sistema viciado. Um vicia, os outros corrompem - ou uice-uersa. É difícil discernir se é o jogo que vicia ou o mundo que se deixa corromper, se são os agentes que corrompem ou se deixam viciar. Percebemos isto mais ou menos.
E se não é só isto? E se a violência for a essência do jogo?
Pois, "o que seria do mundo sem violência?" E se a violência não for apenas um vício do sistema, não for apenas uma corrupção dos agentes? E se a violência é o mundo?
O mundo é na violência, mas também pela violência. Não há apenas violência no mundo: não haveria mundo sem violência. Não é só o leão que morre de fome sem violência - não é só o poderoso que não o seria sem a sua força, sem a sua capacidade de exercer poder sobre os fracos. A haver mundo, há violência. E se for de facto assim?
O mundo é a máquina onde se joga. O jogo é a essência do mundo e a essência do jogo é a violência.
Mas o mundo é complexo, a humanidade está hoje muito longe de ser uma tribo de agricultores, "e com o incremento de possibilidades aumenta a complexidade da liberdade". Quem pode dizer - quem pode saber se é livre?
E se dedicamos toda a nossa seriedade no jogo, se empenhamos a nossa alma ao mundo e ao lado disso fica a vida?
Quantas vidas teremos de perder no jogo para darmos conta de que podemos ter uma vida?
Este é um livro que não nos deixa indiferentes, que não parece ter sido feito para as tardes de bronze na praia. Um livro que nos faz pensar sobre o mundo, sobre a vida e sobre a morte. Que nos faz pensar sobre o valor da vida, de uma vida, da morte e de uma morte. E que, afinal, nos leva a interrogarmo-nos a nós mesmos sobre nós mesmos, a nossa natureza, ou a ausência dela, a nossa vida, ou a ausência dela... a consciência de si, ou a ausência dela.
"A história do homem começa com a história da violência."
"o mundo não é outra coisa senão uma empresa, a Existe Lda., na qual apenas alguns participam nos lucros e os outros fazem o que lhes mandam, ainda que julguem que não é assim, que não estão a ser mandados, que têm livre-arbítrio social e político, ao invés de estarem a ser manipulados por quem realmente manda, por quem realmente decide"
A Máquina do Mundo, Paulo José Miranda
Subscrever:
Mensagens (Atom)