A propósito da narrativa da felicidade
Uma narrativa enche hoje cada recanto da mentalidade padrão. Somos viciados na felicidade e na busca da felicidade. Quando não estamos a tentar mostrar ao mundo que o mundo não nos atinge, quando não estamos a tentar mostrar aos outros e a nós mesmos que ainda somos felizes, estamos a ler livros de auto-ajuda de um qualquer guru, seja actor, seja desportista, filósofo de pacotilha ou psicólogo de sofá. Ou então a devorar estudos científicos recentes que partem do princípio que todos aspiramos à felicidade e que todos devem querer ser felizes, ou a fazer uma festa para não fazer o luto, ou a beber para não pensar, ou a pensar para não sofrer. Ou então estamos a tomar antidepressivos, porque se não estivermos sempre felizes com certeza já não estamos vivos, não somos dignos de usar o tempo de vida. Nunca como hoje se acreditou tanto e tão cegamente no poder transformador do "pensamento positivo"... ao contrário de uma outra "evidência", já hoje esquecida, assassinada e cremada na gasolina da adrenalina do "parar é morrer" moderno, que era a certeza de que nada tem tanto poder para manter as coisas como sempre foram, para arrastar e adormecer do que, precisamente, o "pensamento positivo".
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