A propósito do imperativo moral de que existam homens no futuro...
Imagine a seguinte situação:
1. A humanidade foi conquistada por uma espécie alienígena bastante inteligente;
2. Essa espécie precisa de grandes quantidades de energia e por isso toma controlo de todas as que existem na Terra. Além disso, tem um regime alimentar muito restrito, o que lhes torna muito difícil encontrar fontes de alimento. Contudo, os seus líderes ficam extasiados quando compreendem que o corpo humano é uma iguaria.
3. Os seres humanos são transformados num tipo particular de servos: têm de prestar servidão, a trabalhar em minas e centrais eléctricas, entre os 5 e os 18 anos, altura em que se convertem em "happy meals".
4. Pouco depois de os alienígenas terem tomado controlo, uma resistência humana ainda consegue operar, mas os seus líderes sabem que não têm muito tempo: no máximo, resta-lhes uma semana até que os conquistadores consigam rastrear toda a crosta terrestre, identificando, no processo, todas as bolsas de resistência.
5. Os líderes da resistência decidem reunir-se para decidir o que fazer. VOCÊ é um dos líderes.
6. Um ex-cientista excêntrico revela, na reunião, que possui um gás altamente mortal, muito eficaz, em quantidade suficiente para matar, de forma indolor, todos os humanos que existem. Existe também um plano para dissipar esse gás pelo Planeta, a partir das bolsas de resistência ainda activas.
7. A votação decorre líder a líder e você é o último a pronunciar-se. Quando chega a sua vez, a votação está empatada. Metade pensa que se deve extinguir a humanidade do que viver de forma tão indigna - alguns referiram-se a filósofos importantes, como Sócrates, para defenderem que nem todas as formas de viver são humanamente aceitáveis. Outra metade pensa que não se deve extinguir a humanidade, mesmo nesta situação limite - também houve quem referisse filósofos muito importantes, como Hans Jonas, para defender que é um imperativo que continue a haver homens no futuro, sobretudo porque não se pode saber o que o futuro reserva.
8. Você tem de votar. O seu voto será decisivo: extingue-se ou não a humanidade? Seja como for, para que os outros aceitem o seu voto, terá de lhes apresentar uma boa justificação. (Nota: lembre-se que não decidir significa deixar que a situação descrita em 3. ocorra - por isso, não decidir será, também, por força das circunstância, uma decisão.)
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
sábado, 5 de outubro de 2013
"Nómada", as almas e a reprodução...
A propósito de reprodução e amor...
No "Nómada", de Stephenie Meyer, fala-se de uma espécie alienígena, cujos membros se chamam "almas". As almas são virtualmente imortais. Isto quer dizer que, a não ser que decidam suicidar-se, ou que alguém as mate violentamente, elas não morrem.
Curiosamente, reproduzem-se de uma forma muito particular. Não copulam, não fazem sexo. A natureza não as alicia com qualquer tipo de prazer para uma actividade da qual, provavelmente, nascerão mais membros da espécie. As almas reproduzem-se se decidirem fazê-lo - e reproduzem-se sozinhas. O processo é muito simples: a alma decide dar a vida para que nasçam os seus filhos.
As almas não se podem reproduzir porque, na busca de um prazer intenso, aconteceu um "acidente". Elas têm de decidir que querem ter filhos sabendo que isso significa que no momento em que nascerão, elas morrem. As novas almas não precisam de pais para nada.
A pergunta é: quantos seres humanos procriariam se com eles se passasse o mesmo? Não houvesse sexo. Soubessem que não criariam os seus filhos. Soubessem que morreriam para os seus filhos nascessem. A verdade é que a natureza se deu a um grande trabalho a aliciar os seres humanos a reproduzir-se. Precisaria a natureza de aliciar os seres humanos com o prazer se, de facto, na paternidade em geral estivesse envolvido o amor? É curioso que nos animais que não têm de fazer necessariamente o que os instintos lhe mandam, a natureza teve que envolver na equação um elevado nível de prazer.
Os peixes, por seu lado, também não precisam de "sexo". Algumas arranhas deixam-se comer pelos filhos.
No "Nómada", de Stephenie Meyer, fala-se de uma espécie alienígena, cujos membros se chamam "almas". As almas são virtualmente imortais. Isto quer dizer que, a não ser que decidam suicidar-se, ou que alguém as mate violentamente, elas não morrem.
Curiosamente, reproduzem-se de uma forma muito particular. Não copulam, não fazem sexo. A natureza não as alicia com qualquer tipo de prazer para uma actividade da qual, provavelmente, nascerão mais membros da espécie. As almas reproduzem-se se decidirem fazê-lo - e reproduzem-se sozinhas. O processo é muito simples: a alma decide dar a vida para que nasçam os seus filhos.
As almas não se podem reproduzir porque, na busca de um prazer intenso, aconteceu um "acidente". Elas têm de decidir que querem ter filhos sabendo que isso significa que no momento em que nascerão, elas morrem. As novas almas não precisam de pais para nada.
A pergunta é: quantos seres humanos procriariam se com eles se passasse o mesmo? Não houvesse sexo. Soubessem que não criariam os seus filhos. Soubessem que morreriam para os seus filhos nascessem. A verdade é que a natureza se deu a um grande trabalho a aliciar os seres humanos a reproduzir-se. Precisaria a natureza de aliciar os seres humanos com o prazer se, de facto, na paternidade em geral estivesse envolvido o amor? É curioso que nos animais que não têm de fazer necessariamente o que os instintos lhe mandam, a natureza teve que envolver na equação um elevado nível de prazer.
Os peixes, por seu lado, também não precisam de "sexo". Algumas arranhas deixam-se comer pelos filhos.
Duas ideias muito perigosas...
A propósito de preconceitos democráticos...
Duas ideias que me parecem muito perigosas na contemporaneidade.
1ª, e a mais perigosa: na Ética, na Moral, na Axiologia, etc. - a ideia de que uma coisa é boa PORQUE se a deseja;
2ª: na Política - a ideia de que quando um povo vota está sempre certo ou que NAS ELEIÇÕES o povo nunca erra.
Duas ideias que me parecem muito perigosas na contemporaneidade.
1ª, e a mais perigosa: na Ética, na Moral, na Axiologia, etc. - a ideia de que uma coisa é boa PORQUE se a deseja;
2ª: na Política - a ideia de que quando um povo vota está sempre certo ou que NAS ELEIÇÕES o povo nunca erra.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Vermes, autor de Ele Está De Volta
A propósito de Ele Está De Volta
"Basicamente, a questão é sempre a mesma: como foi possível? E o mais incrível: como foi possível que toda a gente o tenha seguido? Porque é que os alemães o seguiram, aos milhões? E seguiram, caso contrário nada daquilo teria sido possível. Esse é o fascínio. Só parece normal hoje porque já ouvimos esta história centenas de milhares de vezes ao longo de mais de 60 anos e não conhecemos a história de outra maneira. Mas não é normal."
"Encontrei uma resposta, este homem provavelmente não era um monstro. Era atractivo e todas aquelas pessoas o ajudaram com o seu livre arbítrio, o que faz com que sejam elas o monstro e não ele. Sozinho não teria feito nada. Foram as pessoas. Como foi possível, por exemplo, alguém ter trabalhado num campo de concentração?"
"Podemos habituar-nos a muitas coisas malignas. No início, muitos dos soldados matavam as pessoas "à mão", até que se aperceberam de que era um trabalho bastante duro, psicologicamente também, e tiveram que procurar outra maneira de fazê-lo. Foi assim que chegaram às câmaras de gás. Assim se percebe como, aos poucos, se consegue piorar e piorar. E as pessoas que se habituam a um mau passo dão mais um mau passo, conseguem habituar-se a isso."
"Hitler está morto [risos]. Mas a democracia tem as suas fraquezas e sentimos falta de algo, alguém melhor. E se alguém vier e não fizer grandes asneiras, será popular. A que ponto estamos seguros na nossa democracia? Não é difícil ser democrata se estiveres bem, com saúde, se tiveres aquecimento, comida, televisão e um terrível reality show para te entreter. É no meio de uma crise que descobrimos se somos democratas ou não. Tudo é possível."
Timur Vermes, autor de Ele Está de Volta
http://www.ionline.pt/artigos/mais/ele-esta-volta-entrevista-ao-escritor-esta-chocar-alemanha
"Basicamente, a questão é sempre a mesma: como foi possível? E o mais incrível: como foi possível que toda a gente o tenha seguido? Porque é que os alemães o seguiram, aos milhões? E seguiram, caso contrário nada daquilo teria sido possível. Esse é o fascínio. Só parece normal hoje porque já ouvimos esta história centenas de milhares de vezes ao longo de mais de 60 anos e não conhecemos a história de outra maneira. Mas não é normal."
"Encontrei uma resposta, este homem provavelmente não era um monstro. Era atractivo e todas aquelas pessoas o ajudaram com o seu livre arbítrio, o que faz com que sejam elas o monstro e não ele. Sozinho não teria feito nada. Foram as pessoas. Como foi possível, por exemplo, alguém ter trabalhado num campo de concentração?"
"Podemos habituar-nos a muitas coisas malignas. No início, muitos dos soldados matavam as pessoas "à mão", até que se aperceberam de que era um trabalho bastante duro, psicologicamente também, e tiveram que procurar outra maneira de fazê-lo. Foi assim que chegaram às câmaras de gás. Assim se percebe como, aos poucos, se consegue piorar e piorar. E as pessoas que se habituam a um mau passo dão mais um mau passo, conseguem habituar-se a isso."
"Hitler está morto [risos]. Mas a democracia tem as suas fraquezas e sentimos falta de algo, alguém melhor. E se alguém vier e não fizer grandes asneiras, será popular. A que ponto estamos seguros na nossa democracia? Não é difícil ser democrata se estiveres bem, com saúde, se tiveres aquecimento, comida, televisão e um terrível reality show para te entreter. É no meio de uma crise que descobrimos se somos democratas ou não. Tudo é possível."
Timur Vermes, autor de Ele Está de Volta
http://www.ionline.pt/artigos/mais/ele-esta-volta-entrevista-ao-escritor-esta-chocar-alemanha
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