A propósito de DEMONÍACO: Kant, Sade, Lacan e Schopenhauer
Segundo Sade, o prazer inerente à acção moral representa uma tentação poderosa para o indivíduo; por outro lado, a acção libertina constitui o imperativo ético. Assim, Sade preserva a forma da moral kantiana invertendo apenas o sentido moral dos móbiles.
Isto não é o mesmo que o mal-radical: o mal-radical não corresponde à inversão do sentido moral dos móbiles, mas sim ao princípio subjectivo da subordinação do móbil do bem ao móbil do mal.
Do ponto de vista da moral kantiana, a moral de Sade é demoníaca. Do ponto de vista da moral de Sade, a moral de Kant é demoníaca. Mas o mal-radical não é demoníaco.
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"age de tal maneira que a máxima da tua acção, se convertida em lei da natureza, te permita usar o outro, qualquer que ele seja, para tua satisfação"
Cf. Lacan, Kant com Sade
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Para Schopenhauer, o problema da ética de Kant é que, para determinar o dever, usa como princípio os móbiles (inclinações, desejos, impulsos...). No fundo, segundo Schopenhauer, Kant limita-se a dizer-nos: age de tal maneira que faças apenas aquilo que desejes de modo incondicional. Para saber se devo roubar ou não, preciso de saber se eu desejaria que fosse sempre legítimo roubar - ou seja, preciso de saber se também desejaria ser roubado.
O problema, então, é com os sadomasoquistas... Schopenhauer parece ter razão. Isto porque, se pensarmos bem, se um sadomasoquista fosse kantiano e tentasse aplica o princípio categórico, o resultado seria uma moral como a de Sade (e é curioso que o nome de Sade tenha dado origem ao nosso termo "sadismo"). Ou seja, um sadomasoquista que aplicasse a si mesmo o princípio categórico de Kant tornar-se-ia no exemplo perfeito da moral de Sade.
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