A propósito do Afeganistão, a mulher...
Cap. 4
A sublimação é a passagem de uma substância directamente do estado sólido para o estado gasoso, sem passar pelo estado líquido. Trata-se, portanto, de uma passagem que chama a atenção, sobretudo, para o hiato que deixa: seria suposto o sólido passar a líquido antes de chegar a gasoso.
Esta noção é também usada em Psicanálise e em Pasicologia, sendo que Freud lhe deu um uso que muito tem sido discutido. Como não nos interessa aqui debater a sublimação em Freud, iremos apenas apontar aquilo que pretendemos indicar com este termo. Entendemos, para o efeito, sublimação como a manifestação de um aspecto (psicológico, sociológico, etc.) que, no modo como manifesta o que se manifesta, apresenta um desvio relativamente aos modos directos de manifestação do mesmo aspecto.
Tomemos por exemplo o caso do Sr. X que chega a casa depois de ter sido despedido e encontra a sua esposa na cama com o seu melhor amigo. O Sr. X tem diversas formas de reagir. Uma delas é assassinar os prevaricadores. Também pode suicidar-se em seguida. Estas reacções são imediatas e não apresentam nenhum desvio considerável perante o que seria expectável. Não ocorreu sublimação relativamente ao aspecto frustação. Mas imaginemos agora que, um estudante de Filosofia a elaborar uma tese sobre escatologia descobre este caso. O estudante pretende mostrar que o impulso básico e estruturante da vida humana é o impulso para a felicidade. O estudante teria que explicar o suicídio a partir da busca para a felicidade. Podemos dizer que, relativamente ao impulso para ser feliz, o suicídio revela um desvio.
Imaginemos que o mesmo estudante tem que apresentar outro estudo, para Filosofia Antiga, sobre a afirmação de Aristóteles de que todos os homens desejam naturalmente saber. O estudante pretende mostrar que Aristóteles está certo. Ora, o estudante vai ter que explicar, a partir desse desejo de saber, o querer esquecer que os seres humanos por vezes ostentam perante certas verdades. Podemos dizer que, relativamente ao impulso para saber, o querer esquecer revela um desvio.
Devemos deixar patente que tomaremos aqui o termo sublimação neste sentido amplo. Em sentido restrito haveria bastantes ressalvas e aperfeiçoamentos a fazer. Devo, no entanto,ressalvar que os exemplos dados visam simplificar a apreensão do que está em causa no processo de sublimação: afastamento, desvio e, de algum modo, exagero. Ou seja, habitualmente o processo de sublimação é bastante mais complexo do que os casos que foram aqui apresentados, não se tratando da mera negação do aspecto originário. Assim, na análise da sublimação surge sempre a questão: não será mais fácil considerar o resultado da sublimação como um novo aspecto (formulando um novo conceito)? É que o resultado da sublimação muitas vezes contém características que o objecto dito sublimado não contém em si próprio.
Note-se que o aspecto a ser sublimado também contém características que o resultado do processo de sublimação já não conterá. Isto significa que, para que a sublimação seja possível, o aspecto a ser sublimado tem que conter em si mesmo a possibilidade de contornabilidade. Isto é, tem que se tratar de um aspecto moldável/flexível. Contudo, para que a sublimação possa se verificar a contornabilidade do aspecto em causa não pode significar a sua revogabilidade. Isto é, o aspecto deve constituir-se de tal modo que é irrevogável, mas apesar disso é flexível. A sua flexibilidade significa que, mesmo quando não é sublimado, o aspecto sublimável caracteriza-se por ser prorrogável. O impulso sexual, por exemplo, é sublimável por excelência precisamente por deter, em potência, uma adiabilidade infinita: é possível, em tese, viver-se cem anos e morrer-se virgem. Mas isso não significa que o impulso foi revogado. Ser celibatário não significa não ter desejo sexual, pelo contrário, o valor do celibato reside, precisamente, no facto de o desejo continuar.
Por ser contornável mas não revogável implica um substracto cuja permanência possibilita a identificação, no resultado da sublimação, o aspecto sublimado. Isto é, o resultado da sublimação, apesar de ser diverso do aspecto originário, de tal modo que permite a instauração de uma nova rede conceptual que (aparentemente) exclui o conceito originário (sublimado), deve conter em si um carácter fundamental que constitui, também, o aspecto originário. Assim sendo, o resultado da sublimação esteve desde sempre, em potência, no conjunto de possibilidades em que o aspecto originário se pode manifestar. Ou seja, uma das formas de o impulso sexual se manifestar é através das suas formas sublimadas. A sublimação é uma possibilidade que está presente na constituição dos aspectos psicológicos sublimáveis, passo a redundância.
Finalmente, em Psicologia também se pode chamar sublimação simplesmente à manifestação que enobrece um determinado aspecto manifestando-o a partir de um afastamento em relação a modos libidinosos de manifestação. Deste modo, o resultado da sublimação apresenta aquilo que se pode chamar um aperfeiçoamento do aspecto originário. Neste sentido, a sublimação aproxima-se bastante da substituição, na medida em que se apresenta como uma dissimulação do aspecto originário, nomeadamente, desviando a manifestação de impulsos institivos da líbido para formas consideradas nobres (socialmente). Assim, a Filosofia poderia ser considerada uma sublimação do impulso sexual, e o vício pelo trabalho uma sublimação da agressividade. Aliás, habitualmente dizemos que aqueles que se esforçam muito no trabalho têm personalidade lutadora. Reconhecemos facilmente, aí, uma canalização da agressividade básica para uma agressividade socialmente engrandecida. Isto é importante na medida em que, pecisamente na agressividade social/profissional reconhecemos ainda esse substrato que nos premite dizer que este ou aquele vendedor é agressivo e que o mundo dos negócios é uma selva.
O que eu pretendo mostrar é que o estereótipo da menoridade feminina passou, também, por uma sublimação. Os casos de aparente exaltação do estatuto da mulher tratam-se de manifestações da sua menoridade social, apesar de se tratarem de manifestações dissimuladoras.
Ainda não tive oportunidade de ler este presente artigo, no entanto, em relação ao 1º desta temática queri apenas apontar algumas observações:
ResponderEliminarquando fala na mariotária decisão por parte dos cidadãos afegãos, segundo o nosso conceito ocidental de cidadão, esquece-se de fazer referencia a um aspecto muito importante, que aliás se arrasta por todos os tempos e todas as culturas. Não querendo com este aspecto enaltecer a nossa cultura ocidental como a supra sum como aliás é um erro que muito claramente apontou, a questão é que também não podemos dizer que toda uma cultura acha justa uma determinada lei quando nem sequer lhe dá uma hipótese de conhecer outra, ora este é uma erro das culturas árabes e de todas aquelas que ao longo da nossa história temos presenciado uma absoluta descriminação da mulher. Hoje, finalmente, vivemos na nossa cultura ocidental uma situação e devo dizer que considero que esta alteração foi em grande parte provocada e esencialmente provocada por uma só coisa, o acesso á informação, o conhecimento, esta é a grande fonte dos príncipios que regem a formulação de leis justas e mesmo assim é isto que ainda falta em grande medida.
Na realidadeos pontos aqui descutidos vão mmjuito além de simples racionalização.Pois<esta comportamento deriva de uma cultura religiosa,tal como nos é mostra pelo grandes filósofo e jornalista Karl Max.O sistema nos conduz a disparedade importa...
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