A propósito de como distinguir um apóstolo de um louco, um religioso de um fanático, e de como o religioso se torna demoníaco, e o demoníaco se torna religioso...
«Pastores "cristãos" é aquilo que será necessário, também em relação ao maior de todos os perigos, o qual está muito mais próximo do que podemos acreditar - nomeadamente, que quando a catástrofe se espalhar e se tornar num movimento religioso (e a força do comunismo, obviamente, é o mesmo ingrediente que está, demoniacamente, potencial na religiosidade, mesmo na religiosidade cristã), então, como cogumelos depois de uma chuva, irão aparecer personagens demoniacamente treinados que logo farão de si mesmos, presunçosamente, apóstolos, a par com "os apóstolos", uns poucos que também assumirão a tarefa de aperfeiçoar o Cristianismo, logo se tornado eles mesmos também fundadores religiosos, inventores de uma nova religião que agradará ao tempo presente e ao mundo de uma maneira completamente diferente do "ascetismo" do Cristianismo. A era dos ataques académico-científicos ao Cristianismo já tinha acabado antes de 1848, nós já estávamos profundamente embrenhados na era dos ataques da paixão, dos ataques dos ofendidos. Mas isto não é o mais perigoso; o mais perigoso chega quando os próprios demoníacos se tornam apóstolos - qualquer coisa como os ladrões se fazerem passar por polícias - e até mesmo fundadores de religiões, os quais terão um ponto de apoio terrível numa era que é de tal modo crítica que do ponto de vista do eterno é eternamente verdadeiro dizer o seguinte dela: O que é preciso é religiosidade - isto é, a verdadeira religiosidade; contudo, do ponto de vista demoníaco, a mesma idade diz acerca de si mesma: É de religiosidade que nós precisamos - nomeadamente, religiosidade demoníaca.»
Kierkegaard, Journals & Papers, X6 B, §41
sexta-feira, 25 de novembro de 2016
sábado, 19 de novembro de 2016
Política e politicamente correcto
A propósito de politicamente correcto... e de política...
O fim da política não é o bem-estar das pessoas. Não é o "bem comum", e certamente que não é construir um sociedade mais justa.
O fim da política é o poder.
Lamento, mas é assim.
Pode ser chato, pode ser injusto, pode ser f*****. Mas é como as coisas são.
Isto vale para todos. Seja-se Trump, seja-se Clinton.
O fim da política é o poder.
Ponto.
Pense-se numa corrida de cavalos da Roma Antiga.
As pessoas não vão lá para ver um cavaleiro ganhar com coragem, honra e justiça. É indiferente. A justiça e a honra não lhes interessam.
As pessoas também não vão lá para ver vitórias. As vitórias não lhes interessam.
As pessoas vão lá para ver sangue.
O fim da política
O fim da política não é o bem-estar das pessoas. Não é o "bem comum", e certamente que não é construir um sociedade mais justa.
O fim da política é o poder.
Lamento, mas é assim.
Pode ser chato, pode ser injusto, pode ser f*****. Mas é como as coisas são.
Isto vale para todos. Seja-se Trump, seja-se Clinton.
O fim da política é o poder.
Ponto.
O povo e a política
Pense-se numa corrida de cavalos da Roma Antiga.
Ninguém vai lá assistir para ver como os cavalos correm bem ou como os cavaleiros competem destemidamente. As pessoas não vão lá porque perder ou ganhar é desporto. As pessoas não querem saber de desportistas perdedores. As derrotas não lhes interessam.
As pessoas não vão lá para ver um cavaleiro ganhar com coragem, honra e justiça. É indiferente. A justiça e a honra não lhes interessam.
As pessoas também não vão lá para ver vitórias. As vitórias não lhes interessam.
As pessoas vão lá para ver sangue.
Para ver os corpos cortados ao meio pelas rodas.
Sempre que uma corrida acaba sem meia dúzia de membros perdidos e um par de mortes, o público vai para casa com uma espécie de letargia no espírito.
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
Hegel, Kierkegaard e o fenómeno Trump
A propósito do movimento da história...
Como se sabe, Kierkegaard aborrece alguns aspectos de Hegel. Nomeadamente, o facto de Hegel se apresentar a si mesmo como se antecipasse todo e qualquer ponto de vista possível, como se todo e qualquer ponto de vista que alguma vez existiu, existe ou venha a existir não fosse nem venha alguma vez a ser senão um momento, um estágio preliminar, um troço do caminho em direcção à Verdade que só ele pode revelar. Hegel apresenta-se a si mesmo como se antecipasse que todos nós somos momentos no desenvolvimento da sua Verdade, de modo que por mais que o critiquemos, toda a nossa crítica será apenas um momento no processo pelo qual nos tornamos conscientes da Verdade que Hegel já revelou. Como se dissesse: "critica-me à vontade, mas toma nota de uma coisa: se a tua crítica for suficientemente profunda, se for capaz de se tornar progressivamente transparente para si mesma, então hás-de chegar ao ponto onde eu quero que tu chegues, a crítica que me fazes é apenas um processo pelo qual chegarás onde eu já sei que chegarás".
Há algo de hegeliano no modo como tendemos a pensar a história das ideias, a evolução dos costumes, o movimento político das sociedades. Nós tendemos, de facto, a pensar que a História corre numa direcção, num sentido definido e imparável. Há algo de hegeliano no modo como julgamos que as nossas ideias políticas, sociais, morais e éticas correspondem a "avanços", a "progressos", a momentos "mais à frente" numa linha temporal ininterrupta e necessária.
Porém, a História mostra-nos outra coisa. Mostra-nos civilizações que existiram durante vários milhares de anos e que se esfumaram. Mostra-nos religiões que existiram durante tanto tempo que fazem o Cristianismo parecer um bebé mas que já não existem hoje. Mostra-nos que num belo dia Hitler pode vencer eleições. Mostra-nos que padrões de comportamento se podem inverter num piscar de olhos histórico. Mostra-nos que alguns padrões de comportamento antigos se inverteram hoje. Mostra-nos que alguns dos nossos padrões de comportamento estiveram suspensos durante séculos seguidos antes de voltarem a ser restabelecidos. Enfim, a História não parece ser uma corrida linear - excepto se considerarmos que a História se limita aos últimos 50 anos, ou se lermos a História sob o ponto de vista hegeliano: como se, de qualquer modo, tudo não foi mais do que um momento da nossa própria mentalidade a formar-se; como se a nossa própria mentalidade fosse a Verdade histórica a que todos os arrepios hão-de inexoravelmente chegar.
Há qualquer coisa de hegeliano em dizer que Trump representa um retrocesso. Há qualquer coisa de hegeliano em dizer que o crescimento da xenofobia representa um retrocesso. E há um grande perigo em ver as coisas desse modo. Porque a História, muito provavelmente, não seguirá em nenhuma direcção definida se não na eventualidade de os homens a construírem desse modo.
Há um grande perigo em pensar que a mentalidade xenófoba é um retrocesso que a história há-de reverter.
Há um grande perigo em chamar-lhe "retrocesso", porque então chega-se muito facilmente à ilusão de que estamos a salvo porque "o tempo não volta para trás".
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