Ouve-se muitas vezes: "o que interessa é se és feliz com as tuas escolhas."
Nestas circunstâncias pode perguntar-se: ora, é certo que eu quero ser feliz, mas será que por isso me é lícito empregar todos os meios para isso, sejam quais estes forem? Será que, para ser feliz, devo matar? Para ser feliz posso enganar os meus colegas de trabalho para, desse modo, obter uma promoção e singrar na carreira para, assim, ser mais feliz?
Ouvem-se então as mais curiosas declarações do tipo: "um assassino nunca é feliz", ou "quem engana nunca pode ser um bom profissional", ou "quem faz esse tipo de coisas nunca é feliz consigo mesmo".
Podemos, neste caso, chamar a atenção para as estatísticas que mostram que entre os profissionais de topo há tantos psicopatas como nas cadeias, e que os psicopatas tendem a ser os melhores profissionais, embora não tenham qualquer problema em enganar, mentir, etc.
"Ah, mas os psicopatas não são felizes."
E pronto. A coisa pode continuar indefinidamente. As pessoas querem que o mais importante seja a felicidade, mas depois não querem aceitar que seja permitido matar, roubar, etc., para se ser feliz. Então, confrontadas com o dilema, preferem acreditar que quem faz essas coisas não é feliz, esquecendo o essencial da questão: é que quem mata, provavelmente, fá-lo porque acredita que isso contribuirá para a sua felicidade - ou não será que o fez porque procurava ser infeliz? Ora, se fez o que fez em vista à felicidade, então o problema é, precisamente, o de saber se, em vista à felicidade, tudo é permitido, incluindo roubar e matar.
Como se percebe, é absolutamente irrelevante se o sujeito se torna efectivamente feliz ou não. O ponto é apenas saber se me é lícito fazer seja o que for que me pareça ser útil à minha felicidade.