A propósito de, Filosofia e Filósofos
O problema não é novo, nem sequer recente. A discussão há muito foi identificada: Sócrates dialogava, Platão escreveu; Sócrates questionava, Platão ensinou.
O Filósofo tornou-se docente. Tornou-se funcionário (público ou privado). Tornou-se formador.
O problema não é novo, portanto. Ocorreu um desvio. A Filosofia deve ser uma actividade, mas tornou-se ensinamento. O Filósofo ensina.
O problema é, pois, saber se não aconteceu que a Filosofia se tenha tornado cativa. Pois, a Filosofia deveria questionar, antes (e este antes não é meramente cronológico) de ensinar.
Está o filósofo destinado a ser formador?
Não está em causa a importância social e pública do ensinamento. Com toda a certeza é importante formar, ensinar, transmitir valores, dizer às crianças que existe um mundo sério, onde os Direitos Humanos têm um lugar cimeiro, onde a Ética tem a sua regência, onde a cidadania é uma actividade quotidiana, etc.
Não está em causa a importância de ensinar para a Democracia.
A questão é outra: é a Filosofia isso? Só isso? Sobretudo isso?
Se este é o destino do Filósofo talvez se devesse também questionar: não se perdeu, entretanto, de vista uma actividade fundamental, para a própria cidadania, para a própria Democracia, para os próprios Direitos Humanos, para a própria Ética - e que é a actividade de, simplesmente, questionar sem ter previamente em vista "adjudicar" uma resposta?
Não faz falta, também, ensinar a questionar - questionar de raiz, sem assumpções?
Será que, reconhecendo a relevância de Platão, o nosso mundo não tem lugar para Sócrates?
quinta-feira, 27 de maio de 2010
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